O Globo
Turnê de lançamento do PAC, concessões a
Castro e Paes e retomada de investimentos em óleo e gás fazem parte da
estratégia de retomar liderança no Estado
Luiz Inácio Lula da Silva está em turnê no
Rio. A solenidade com pompa e circunstância do novo PAC será apenas o clímax de
uma visita estendida, planejada para marcar uma ofensiva política do presidente
no estado com o qual viveu uma história de amor em seus mandatos anteriores —
que acabou sem final feliz para ele e os parceiros de então.
Agora, diante dos graves reveses políticos
e judiciais de Jair Bolsonaro, Lula investe para fincar a bandeira do governo
federal na forma de investimentos e concessões no Rio, com o intuito evidente
de chegar ao término de quatro anos tendo entregado mais para o estado e para
sua capital que o antecessor, que tem neles sua base política.
Por mais que escorregue aqui e ali na
retórica quando fala de improviso, Lula é imbatível na arte de, em cima de um
palanque, entender rapidamente a maré do público e conquistá-lo para si.
Foi dessa forma que deu as mãos ao prefeito Eduardo Paes, político igualmente habilidoso, e passou um pito na plateia que começava a vaiar o governador Cláudio Castro, aliado de Bolsonaro quando foi alçado ao cargo pelo impeachment de Wilson Witzel e na bem-sucedida campanha à reeleição, mas que vem se mostrando o mais discreto dos governadores do triângulo do Sudeste agora, na fase do ocaso do capitão.
Depois de suscitar críticas dos seguidores
mais radicais de Bolsonaro ao apoiar a reforma tributária, o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, passou as duas últimas semanas reforçando seus
vínculos com o ex-presidente, com ações de viés bolsonarista na educação e na
segurança pública e declarações de que não será candidato em 2026 e apoiará
quem Bolsonaro indicar.
Romeu Zema, de Minas, deixou evidente sua
pressa em ser o candidato a herdeiro do espólio bolsonarista em 2026 e se
queimou com o eleitorado do Norte e Nordeste ao comparar as duas regiões a
“vaquinhas” que dão pouco leite e nem por isso mereceriam ser protegidas.
Castro tem tido uma postura mais
pragmática, de buscar acordos vantajosos economicamente para o Rio, como o
impulsionamento do Galeão, o recebimento de receitas de petróleo e o polo
farmacêutico da Fiocruz.
É uma linguagem que Lula domina e que casa
com a arrancada do PAC, uma vitrine de seu terceiro mandato. Com todos tocando
a mesma música, a passagem do petista pelo Rio deverá fazê-lo avançar na clara
estratégia de reduzir a vantagem do antecessor junto ao eleitorado fluminense.
Bem mais inteligente que ofender o eleitorado que não fechou com ele na
eleição, como acabou fazendo Zema ao propor uma espécie de guerra de secessão
no Brasil.
O desgaste eleitoral de Lula no Rio veio
depois de anos de lua de mel com o estado. Em 2006, ele se reelegeu com 70% dos
votos dos fluminenses no segundo turno. Em 2007, ele e Cabral começaram uma
parceria bem-sucedida política e economicamente para o Rio, com fartos
investimentos na indústria de óleo e gás. O ocaso de ambos teve em comum a
Lava-Jato, que, no Rio, foi encarnada na figura do juiz Marcelo Bretas.
Mesmo com a anulação de todas as
condenações, Lula ainda colheu em 2022 o fruto do desgaste no Rio: perdeu por
Bolsonaro por 56,53% a 43,47%. A ofensiva de agora é para recuperar esse
terreno.
O discurso de retomada do investimento na
indústria de óleo e gás casa com a necessidade de voltar os olhos para o
estado. Da mesma forma, o petista também olha para São Paulo: a ideia é, ao término
de quatro anos, ter um número de investimento em infraestrutura para exibir
superior ao da dupla Bolsonaro-Tarcísio.
Com o PAC, a eleição de 2024 será crucial
para o avanço dessa retomada do Sudeste. Se conseguir, no Rio, aproximar Castro
e Paes, Lula acredita que poderá enfraquecer Bolsonaro ainda mais e começar a
trincar a polarização na “casa” do oponente.
Tomara!
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