O Estado de S. Paulo
Megacoligação costurada por Lula impede unidade de ação
Lula 3 caminha para ser o governo coração
de mãe, onde sempre cabe mais um. No caso, mais um partido numa megacomposição
governista em linha com a essência da política brasileira: a acomodação dos
mais variados interesses privados e setoriais via cofres públicos.
Essa fórmula de amplo espectro nada tem a
ver com um “pacto” ou uma “concertación” nacional diante de crises ou desafios
importantes para o País. Ela espelha uma enorme dispersão de projetos,
impulsos, problemas a serem resolvidos e linhas de atuação, sem uma clara
direção central.
Lula 3 quer gastar mais sem tributar mais, reindustrializar via Estado sem ter recursos suficientes, corrigir distorções sem mexer nelas, atender a interesses contraditórios (como na transição energética) sem antagonizar nenhum. As negociações com o Centrão expressam exatamente essa salada de linhas de atuação, sem que se possa esperar o “triunfo” decisivo de qualquer uma delas (incluindo as do PT).
Em linhas gerais, é o resultado permitido
pelo sistema político brasileiro. Medido pela capacidade de gerar crescimento e
prosperidade, esse sistema merece uma péssima nota.
O Brasil exibe produtividade estagnada há
décadas e renda per capita na mesma distância em relação às economias avançadas
há uns 40 anos.
Embutido nesse sistema político, o de
governo, na prática, impede qualquer “atuação transformadora”. Nesse sentido,
Lula 3 e seus arranjos de governabilidade são um retrato nítido da incapacidade
geral das instâncias políticas no Brasil de romper a paralisia e encontrar
impulsos convergentes em torno de estratégias mais ou menos definidas.
Mas sobra distração política, e não se
trata apenas da persistente polarização das bolhas e seus “fatos” políticos que
só os adeptos de cada lado reconhecem. As demoradas tratativas para a
distribuição de pedaços do governo Lula 3 entre mais de uma dezena de partidos
sugerem que dessas minuciosas negociações sairia algo “decisivo” ou “definidor”
por um bom tempo.
Essa ilusão se desfaz, porém, bastando
perguntar “para quê?” Para que o partido “x” pretende o ministério “y”? Para
que o partido “z” almeja os cargos de autarquias e estatais? A resposta é óbvia
e não se trata necessariamente da oportunidade de praticar ilícitos.
Essas agremiações apelidadas de partidos
consideram que participar de governos é o que garante em primeiro lugar a
própria sobrevivência. Esses acertos de participação e apoio em geral não
envolvem discussões sobre ideias, plataformas, projetos ou políticas públicas.
Por isso é sempre tão fácil achar lugar para mais um.
TEM ATÉ LUGAR PARA VOCÊ, COM SEUS TEXTÍCULOS A SOLDO
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