quinta-feira, 3 de agosto de 2023

William Waack – Para que?

O Estado de S. Paulo

Megacoligação costurada por Lula impede unidade de ação

Lula 3 caminha para ser o governo coração de mãe, onde sempre cabe mais um. No caso, mais um partido numa megacomposição governista em linha com a essência da política brasileira: a acomodação dos mais variados interesses privados e setoriais via cofres públicos.

Essa fórmula de amplo espectro nada tem a ver com um “pacto” ou uma “concertación” nacional diante de crises ou desafios importantes para o País. Ela espelha uma enorme dispersão de projetos, impulsos, problemas a serem resolvidos e linhas de atuação, sem uma clara direção central.

Lula 3 quer gastar mais sem tributar mais, reindustrializar via Estado sem ter recursos suficientes, corrigir distorções sem mexer nelas, atender a interesses contraditórios (como na transição energética) sem antagonizar nenhum. As negociações com o Centrão expressam exatamente essa salada de linhas de atuação, sem que se possa esperar o “triunfo” decisivo de qualquer uma delas (incluindo as do PT).

Em linhas gerais, é o resultado permitido pelo sistema político brasileiro. Medido pela capacidade de gerar crescimento e prosperidade, esse sistema merece uma péssima nota.

O Brasil exibe produtividade estagnada há décadas e renda per capita na mesma distância em relação às economias avançadas há uns 40 anos.

Embutido nesse sistema político, o de governo, na prática, impede qualquer “atuação transformadora”. Nesse sentido, Lula 3 e seus arranjos de governabilidade são um retrato nítido da incapacidade geral das instâncias políticas no Brasil de romper a paralisia e encontrar impulsos convergentes em torno de estratégias mais ou menos definidas.

Mas sobra distração política, e não se trata apenas da persistente polarização das bolhas e seus “fatos” políticos que só os adeptos de cada lado reconhecem. As demoradas tratativas para a distribuição de pedaços do governo Lula 3 entre mais de uma dezena de partidos sugerem que dessas minuciosas negociações sairia algo “decisivo” ou “definidor” por um bom tempo.

Essa ilusão se desfaz, porém, bastando perguntar “para quê?” Para que o partido “x” pretende o ministério “y”? Para que o partido “z” almeja os cargos de autarquias e estatais? A resposta é óbvia e não se trata necessariamente da oportunidade de praticar ilícitos.

Essas agremiações apelidadas de partidos consideram que participar de governos é o que garante em primeiro lugar a própria sobrevivência. Esses acertos de participação e apoio em geral não envolvem discussões sobre ideias, plataformas, projetos ou políticas públicas. Por isso é sempre tão fácil achar lugar para mais um.

 

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