Ao se despedir do plenário do Supremo, Augusto Aras disse ter oferecido “sangue, suor e lágrimas” como procurador-geral da República. A expressão foi surrupiada de Winston Churchill, líder da resistência britânica ao nazismo. Seria mais sincero se comparar a Neville Chamberlain, o primeiro-ministro que fraquejou diante da ameaça totalitária.
Nomeado por Jair Bolsonaro, Aras lavou as mãos enquanto o capitão sabotava as instituições e conspirava contra a democracia. Mais que um engavetador, foi um acobertador-geral de crimes presidenciais.
O procurador usou o cargo para proteger Bolsonaro do alcance da lei. Em sua gestão, o Ministério Público se tornou um peso morto em Brasília. Não fiscalizou, não cobrou e não denunciou os donos do poder.
Ao tomar posse, Aras fez um discurso sob medida para agradar o presidente. Também bajulou os militares com loas ao “espírito iluminado e pacificador de Caxias”. Sensibilizado, o capitão definiu a relação com o procurador como “amor à primeira vista”.
O sentimento foi correspondido. Aras se omitiu quando Bolsonaro incitou sua tropa contra a Justiça Eleitoral. Fez vista grossa quando o governo fichou acadêmicos e usou uma lei da ditadura para perseguir opositores. Barrou a abertura de inquéritos por improbidade e suspeita de corrupção.
Na pandemia, sua inação foi ainda mais gritante. Ele silenciou diante de ataques à vacina, à máscara e ao distanciamento social. Fechou os olhos enquanto o governo torrava dinheiro em cloroquina e deixava faltar oxigênio em hospitais. Por fim, sentou-se sobre o relatório da CPI da Covid, que empilhou provas contra o presidente.
A inércia deixou o Ministério Público à beira de um motim. Depois da eleição de 2022, duas centenas de procuradores cobraram medidas contra o bloqueio ilegal de rodovias. Se a PGR tivesse agido à altura, o país poderia ter freado o golpismo que culminou na intentona de 8 de janeiro.
No discurso de ontem, Aras foi só elogios a si mesmo. Disse que cumpriu seu “dever institucional e cívico” e que sempre atuou “em prol de um Brasil melhor”. Num ato falho, afirmou que “as pessoas ficam e as instituições passam”. Para sorte da Procuradoria, ele deve passar primeiro. Seu mandato termina na terça-feira.
Sim, já vai tarde!
ResponderExcluir▪E mesmo assim nós estivemos correndo o risco de ver Augusto de Aras ser reconduzido a novo mandato como Procurador Geral por Lula, como prêmio por bloquear as ações e esvaziar a Operação Lava Jato e ajudar a desmontar as estruturas de combate à corrupção, favorecendo a que Lula e Flávio Bolsonaro ficassem impunes ao mesmo tempo e ajudando Lula e o PT nas suas vinganças contra quem os desmascarou.
A indicação de Augusto de Aras lá atrás por Bolsonaro já foi bem estranha, por a ligação de origem de Aras ser com o PT e não com Bolsonaro.
Mas eu não acho que lá atrás houve uma trama entre os dois polos para a indicação de Aras para a PGR. Apenas a indicação de Aras coincidiu em atender aos interesses dos dois populismos corruptos e por isto os dois populismos, o de Lula e o de Bolsonaro, jogaram juntos no desmonte do combate à corrupção no Brasil, desmonte esse que foi denunciado pelo Banco Mundial e pela Transparência Internacional.
Estranho e incoerente é os petistas aceitarem até a impunidade de Flávio Bolsonaro usando os mesmos subterfúgios que o PT usou. É mesmo um caso assombroso o lulismo e o PT, tão monstruoso quanto Bolsonaro e o bolsonarismo.
E este colunista, o Bernardo Franco, e vários outros, alguns dos quais já foram jornalistas exemplares, deveriam escrutinar os personagens e fatos com mais isenção e profissionalismo, destapando o passado que depois dita o terrível futuro que temos tido com Lula e Bolsonaro.
ResponderExcluirEsta trajetória de Augusto de Aras, suas ligações e os serviços aos quais se presta é um exemplo de abordagem mal tratada e de parcialidade da imprensa.
Durante todo o tempo em que o PT ficou buscando uma forma de reconduzir Aras na PGR a imprensa se omitiu em informar de verdade. De Reinaldo Azevedo não se podia esperar que ele informasse, mas parece que Reinaldo tem um substituto neste Bernardo Franco.
Já vai tarde, mesmo! Mas a maior parte dos colunistas sempre foi crítica de Aras, e também criticava a possibilidade de Lula reconduzi-lo, o que era mais uma discussão sobre hipóteses do que sobre real motivo dado por Lula para acreditarem numa recondução de Aras. Lula não se comprometeu de aceitar a lista tríplice do MPF, mas sempre se esquivou sobre que critérios usaria pra escolher o seu PGR. Fez o mesmo sobre suas indicações para o STF.
ResponderExcluirSe é por falta de adeus,saudações!
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