Folha de S. Paulo
Novo presidente deve enfrentar conflito entre
equilíbrio político e suas próprias convicções
Luís
Roberto Barroso tem uma visão do Supremo que soa como pesadelo para
críticos do chamado "ativismo judicial". Há tempos, ele sustenta que
o tribunal deve ser contramajoritário,
representativo e iluminista. Em outras palavras, pode se contrapor a
decisões de políticos eleitos, atender a demandas sociais quando há omissão
desses mesmos políticos e impulsionar avanços civilizatórios que desafiem
certos consensos.
O ministro procurou modular o alcance desses princípios ao assumir o comando do STF num momento de particular tensão no entorno do tribunal. O discurso de posse foi uma tentativa de reafirmar os três pilares, acrescentando um complacente passo atrás para evitar um conflito prematuro com o Congresso.
Barroso fincou estacas ao defender a
autoridade de um STF visto por suas contrapartes em Brasília como Poder
inchado. Destacou que a Constituição oferece essa atribuição e encenou uma
bravura pouco convincente (a partir de sua própria experiência na corte) ao
dizer que "a virtude de um tribunal jamais poderá ser medida em pesquisa
de opinião".
Na sequência, como se buscasse afastar uma
certa arrogância, o ministro ofereceu uma corte permeável. Disse ser imperativo
agir "com autocontenção e em diálogo com os outros Poderes e a
sociedade". Se o aceno foi necessário, também posiciona o STF num terreno
movediço entre a responsabilidade e a rendição diante de pressões externas.
A
insatisfação de parlamentares com decisões recentes do Supremo e a
ameaça de restringir a atuação do tribunal estão no foco dos sinais emitidos
por Barroso. Ainda que estenda a mão, o ministro já apontou, no passado, que o
STF é mais progressista do que o Legislativo porque o Congresso sofre
influência excessiva do poder econômico, que distorce sua representação.
Para evitar novos desgastes, Barroso talvez
entre em conflito com suas próprias convicções. "Na vida, nós estamos
sempre nos equilibrando. Viver é andar numa corda bamba", resumiu, ao fim
do discurso.
Verdade.
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