Folha de S. Paulo
Presidente terá que traçar limites de
tolerância e mostrar até onde vai para preservar arranjos políticos
A visita da Polícia
Federal ao município de Vitorino Freire (MA) antecipa um teste
inevitável para Lula.
No momento em que o centrão amplia seus domínios no governo, a
operação que envolve o ministro Juscelino Filho força o petista a
traçar limites de tolerância e mostrar até onde vai para preservar arranjos
políticos.
Juscelino é o primeiro ministro de Lula citado em suspeitas frescas de corrupção. Segundo a PF, o político mandou verba de emendas para o município comandado pela irmã, alertou empresários amigos que manipulavam licitações e recebeu pagamentos numa empresa de fachada. Ele nega irregularidades.
Dois elementos oferecem a Lula algum alívio
na história. O primeiro é o fato de que a Polícia Federal teve liberdade para
escarafunchar transações sem proteger um integrante do primeiro escalão. O
segundo é a concentração de pagamentos no governo de Jair Bolsonaro, como parte
do mercadão de emendas que ganhou corpo naquele período.
Esses mesmos fatores também provocam
incômodo. A atuação da PF sob Lula enfureceu o centrão quando Arthur Lira
entrou na mira da investigação sobre a compra de kits de robótica. Além disso,
o mercadão do Congresso continua ativo, e os mesmos atores permanecem no
controle de órgãos federais por onde passa o dinheiro, como a Codevasf.
No início do governo, Lula segurou
Juscelino no cargo para evitar uma crise com seus padrinhos do centrão. Mas o
esquema de partilha de poder com esse e outros grupos políticos faz com que o
caso do ministro dificilmente se mantenha isolado. A reforma para atender
ao PP e
ao Republicanos aprofunda
o risco.
A repulsa ao lavajatismo impôs a Lula uma
resistência a pressões provocadas por suspeitas de corrupção. O presidente terá
que mostrar em que momento essas suspeitas podem ser consideradas concretas o
suficiente para justificar a demissão de um ministro. Se estiver preocupado só
com a estabilidade política, o petista poderá dar um salvo-conduto para desvios
no governo.
Perfeito.
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