Folha de S. Paulo
Coronel foi operador e testemunha de atos
do ex-presidente porque oferecia lealdade e discrição
Quando a defesa de Mauro Cid deu
os primeiros sinais de que o coronel poderia confessar
a venda de joias e implicar Jair
Bolsonaro, o ex-presidente disse que aquela era uma estratégia kamikaze.
Ele declarou à Band que nunca havia ordenado a venda de presentes e afirmou que
seu antigo auxiliar seria capaz de falar qualquer coisa para sair da prisão.
A reação de Bolsonaro naquele momento, há três semanas, mostrava que uma possível delação de Cid já era levada a sério. A comparação com os pilotos suicidas era um aditivo curioso, como se ele fosse obrigado a reconhecer que a confissão do ex-ajudante teria mesmo a capacidade de destruir outros personagens.
A devastação produzida pela delação pode
ser medida a partir do papel de Cid na estrutura que funcionava no entorno de
Bolsonaro. Como principal ajudante de ordens do então presidente, o coronel era
o ponto mais próximo dessa órbita. Foi operador ou testemunha das ocorrências
mais banais às mais graves.
Cid desfrutava dessa proximidade porque
oferecia em troca lealdade e discrição, redobradas pelo espírito de corpo que
carregava com a farda militar. Essas características eram também o que
alimentava entre os bolsonaristas a expectativa de que o coronel jamais
fecharia uma delação que prejudicasse o ex-chefe.
As ligações da dupla fazem com que a
ruptura desse pacto seja potencialmente explosiva. Segundo a GloboNews, Cid
ofereceu à Polícia
Federal depoimentos sobre a venda das joias sauditas, a falsificação
de cartões de vacinação e as articulações para um golpe de Estado. Sobram laços
suspeitos do envolvimento de Bolsonaro com os três temas.
A defesa do ex-presidente ainda parecia
apostar em alguma fidelidade remanescente. Na quinta-feira (8), o
ex-secretário Fabio Wajngarten afirmou que "não há o que delatar".
É sinal de que a turma de Bolsonaro torcia para que Cid mudasse de ideia ou não
citasse o envolvimento de superiores nos crimes, o que inviabilizaria a
delação. Mas o coronel mostrou que está de olho no prêmio.
Pois é.
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