Folha de S. Paulo
Autoridades vêm se excedendo em
interpretações que falsificam a história
Algum filantropo precisa instituir o
prêmio Stálin de
adulteração da história. A disputa pelo galardão seria acirradíssima.
No mês passado, Lula, comentando o arquivamento de uma ação de improbidade contra Dilma pelo TRF-1, afirmou que a decisão provava que as pedaladas fiscais que levaram ao impeachment da ex-presidente nunca existiram. Na verdade, os desembargadores concluíram apenas que a ação não era cabível, porque Dilma já fora punida por essa mesma conduta com o afastamento no foro adequado, que é o Senado.
Lula até poderia ter dito que as pedaladas,
no seu entender, não justificavam o impeachment, mas não que elas não ocorreram
e menos ainda que o TRF-1 disse que não ocorreram. A própria Dilma já tentou se
justificar afirmando que todos os presidentes anteriores a ela, incluindo Lula,
também pedalaram.
Esta semana, o ministro do STF, Dias Toffoli,
que já sugerira que o petrolão não
passou de uma armação, disse que a democracia
brasileira provavelmente só sobreviveu a Bolsonaro graças à "força do
silêncio" de Augusto Aras.
O bonito na democracia é que todos são livres para formar seus próprios juízos.
Na minha interpretação, diametralmente oposta à de Toffoli, Bolsonaro só
foi tão longe em suas investidas golpistas porque Aras e Arthur Lira deixaram
de cumprir suas obrigações.
Dentre os mais de 200 milhões de brasileiros,
eles eram os dois únicos que poderiam ter cortado desde cedo as asinhas
usurpadoras do ex-presidente. Aras poderia e deveria tê-lo denunciado por
qualquer uma de suas primeiras infrações penais comuns (e foram várias). Lira
poderia e deveria ter criado a comissão que
avaliaria a admissibilidade de algum dos mais de cem pedidos de impeachment.
Se tivesse tomado uma estocada lá no começo, duvido que Bolsonaro, que não é
famoso por ser uma pessoa muito corajosa, tivesse chegado aonde chegou.
Meu voto vai para Toffoli, pelo conjunto da
obra.
Obra prima ou obra da prima?
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