O Globo
População deve dizer se é a favor ou contra a
Petrobras furar poços na Margem Equatorial
Não é pule de dez que Lula da
Silva consiga o almejado Prêmio Nobel, em sua roupagem de militante ambiental.
Mas quase tão certo quanto o general Heleno não estar relendo “Em busca do
tempo perdido”, de Proust, é Lula 3 permitir que a Petrobras explore a Margem
Equatorial.
São as esquizofrenias da política petista:
1) Elege-se Lula, numa frente ampla, mas é o
bolsonarista Arthur Lira quem nomeia vários ministros e ainda diretores de
bancos estatais. E exige que a Polícia Federal deixe de cometer exageros, como…
investigar seus suspeitos aliados nos cafundós de Alagoas.
2) Em discurso lido na ONU, Lula cobra os países ricos por mais fundos em defesa da Amazônia. Lindo. Meus netos agradecem. Mas antes deixou no Brasil o próximo orçamento com indicativos da exploração de petróleo na Margem Equatorial. Além de seu ministro de Minas e Energia acenar — sim! — que ninguém tasca, a Petrobras vai furar uns poços por ali. A população do Amapá (733 mil habitantes pelo último Censo) recebeu a notícia em viva voz do próprio presidente: pode contar com o novo empreendimento.
Ah, as intermitências petistas. Na gestão
anterior, Lula passou por cima dos órgãos ambientais para construir a
hidrelétrica Belo Monte, na mesma Amazônia. Depois do ditador Emílio Médici,
com sua Transamazônica, o atual líder brasileiro busca se igualar em grau de
estrago ambiental.
Na década de 1970, o Brasil vivia sob uma
ditadura, jornais sob censura, prisões cheias de adversários políticos, e a
repulsa à construção da Transamazônica mal alcançou a população. Vendia-se a
ideia de progresso ao botar abaixo árvores centenárias, a floresta rasgada por
uma estrada capaz de trazer — enfim! — desenvolvimento ao Norte.
Cinquenta anos depois, o registro da cena
mostra um desmatamento brutal, com facções criminosas à frente de atividades
como garimpo ilegal e tráfico de drogas, assassinatos de líderes comunitários e
uma Zona Franca capenga amamentada por dinheiro do contribuinte — em números,
são R$ 24 bilhões por ano em subsídios, para uma população amazônida de 28
milhões, um terço deles considerados pobres, segundo o último relatório feito
pelo Banco Mundial. Não parece um bom resultado.
O voluntarismo de Lula, ao escantear as
posições do Ibama e de Marina Silva,
contrários à construção de Belo Monte, secundados por estudos técnicos, poderia
ser lembrado no instante em que é oferecida à população do Amapá riqueza
baseada em petrodólares. Caros amapaenses, saibam: os ribeirinhos do entorno de
Belo Monte dependem de eletricidade produzida ou por geradores a diesel ou
graças ao projeto Litro de Luz. Além de haver diversos problemas ambientais
provocados pela usina. A população reclama do desaparecimento dos peixes.
Num filme que se repete, o órgão ambiental e
a ministra de novo não se convenceram diante das garantias agora apresentadas
pela petroleira. Detalhes burocráticos e tolos, afinal Lula e o ministro já
sonham com o número de poços a perfurar. Vai na marra. Chute-se a ciência.
A Margem Equatorial, segundo diversos
cientistas, é diferente de Belo Monte. Ali existe um recife de corais,
descoberto em 2016, riquíssimo em biodiversidade, do tamanho do estado da
Paraíba. Desde então, já foram feitas expedições à área, com registros
incontestáveis de seu valor ambiental. De acordo com os especialistas, é um
patrimônio semelhante ao de Abrolhos ou Fernando de
Noronha — só que mais extenso. Também reside ali a maior faixa
contínua de manguezais do planeta. Nada disso pode ser desprezado. Ambos
tesouros ambientais podem render milhões em créditos de carbono. Ganhar para
preservar.
Uma decisão voluntariosa à semelhança de Belo
Monte, como vocaliza Lula e seu ministro, apesar dos inúmeros alertas dos
cientistas (que estudaram o assunto), trará consequências a várias gerações.
Pense na Transamazônica.
O futuro brasileiro merece ser maior que Lula
e a Petrobras. Ainda mais com a matriz energética à beira de mudanças radicais
diante da transição climática.
Por isso Lula, desejoso de reconhecimento
mundial, deveria propor um plebiscito ao país: a favor ou contra a Petrobras
furar poços na Margem Equatorial, em região próxima (30 km) de um colosso
ambiental? As urnas não deram ao presidente salvo-conduto para decidir numa
canetada algo que pode se mostrar um imenso desastre. A população deve dizer o
que pensa a respeito. Um debate amplo será esclarecedor.
Plebiscito, já.
Plebiscito uma ova. Referendo!
ResponderExcluirMAM
Deu no jornal que já há mais bovino que gente.
ResponderExcluirVai o gado bolsobovino votar a favor do óleo, e olhe lá!
Luiz Inácio é um chato!