O Globo
Mesmo com a evidente experiência desastrosa no Brasil e nos Estados Unidos, a extrema direita avança na América Latina
O 11 de setembro de 1973 foi apavorante. No
Brasil, era o auge do AI-5, e muita gente via o Chile como um exemplo de Forças
Armadas profissionais e legalistas. Seria um oásis na região. Até aquele dia em
que o comandante do Exército, Augusto Pinochet, voltou-se contra o governo do
qual fazia parte, bombardeou o Palácio La Moneda, levou o presidente Salvador
Allende à morte e iniciou um governo sangrento e corrupto. Já houve
aniversários melhores desta data trágica, quando a direita democrática chilena
chegou admitir os crimes da ditadura. Hoje o negacionismo produziu um
retrocesso tal que faz parcela considerável dos chilenos afirmar que não houve
golpe, ditadura, tortura ou mortes. Nega-se a verdade factual. E mais de um
terço da população hoje acha a ditadura justificável.
No Brasil nesse 11 de setembro de 2023, o ex-presidente Jair Bolsonaro teme pelo seu futuro. A delação do tenente-coronel Mauro Cid pode trazer à tona a verdade dos fatos recentes da história do país. Neles, há uma tentativa de golpe de Estado comandada por Bolsonaro. Entre outros crimes. A defesa do ex-presidente achava que conseguiria saber o que Cid havia começado a falar. Pediu acesso aos depoimentos dos oito investigados interrogados no dia 31 de agosto na Polícia Federal. Bolsonaro ficou em silêncio, mas Mauro Cid falou. O advogado constituído por ele poderia ver o depoimento, desde que não fosse delação. Sendo delação, a investigação correrá por enquanto em sigilo.
Bolsonaro está em apuros porque durante os
quatro anos de governo planejou um golpe de Estado e tentou executá-lo. Nos
intervalos cometeu outros crimes: apropriação indébita de joias e presentes
recebidos pela presidência, falsificação de documento público e gestão
criminosa da pandemia.
O problema é que mesmo diante das evidências
das violações da ultradireita, aqui e nos Estados Unidos, o avanço dos
extremistas continua na América Latina. A passagem do tempo deveria ter
transformado o 11 de setembro chileno numa simples efeméride sobre a qual só
caberia fazer o registro de sempre, com homenagens às vítimas, e repúdio ao
passado violento. E sobre o qual correntes políticas oponentes entre si não
teriam visões divergentes sobre fatos históricos nem sobre os valores
democráticos. Mas chegou um tempo louco em que é preciso disputar o relato do
que de fato aconteceu cinquenta anos atrás. O negacionismo corrói as mentes.
No ano que vem o Brasil ficará diante dos
60 anos do golpe militar de 1964. A forma pela qual viveremos o próximo 31 de
março terá muito a ver com o que está acontecendo hoje no país. Se a tentativa
de golpe de Bolsonaro tiver sido esclarecida, os responsáveis punidos, se tiver
sido elucidada a participação de lideranças militares nessa conspiração, o país
poderá começar a virar a página. Para isso, as instituições não podem repetir a
velha tendência brasileira de jogar tudo para debaixo do tapete.
A volta da extrema direita na América
Latina nos conduziu ao infeliz governo Bolsonaro que negava os crimes da
ditadura militar e a eficácia da vacina, que exaltava torturadores e combatia
as medidas de proteção da população contra o vírus. No final morreram
proporcionalmente mais brasileiros do que em outros países, a cobertura vacinal
está mais baixa do que no passado, e uma tentativa de golpe foi engendrada
dentro do governo. As urnas interromperam a escalada que nos levaria a mais
retrocessos.
O Brasil está adiante no tempo em relação a
países por já ter tido quatro anos desse governo. No Chile, a extrema direita
cresce e nesse 11 de setembro mostrou que nada tem de democrática, na Argentina
ela está a um passo da Casa Rosada. Mas nada está garantido ainda. Nem mesmo
aqui onde eles amargaram derrota eleitoral e seu “mito” está assombrado pela
verdade que pode ser revelada por um dos seus mais próximos ajudantes.
O Chile não fez uma nova Constituição ao
fim da ditadura militar. Essa falha tem sido um peso para o país e recaiu
fortemente sobre o governo Gabriel Boric. O Brasil começou o tempo democrático
redigindo uma nova Constituição. A nossa Carta Política democrática precisa ser
respeitada em cada ponto. Esse é o melhor antídoto para os fantasmas que se
recusam a ir embora na América Latina.
Há um fundamentalismo mais perigoso que outro?
ResponderExcluirQual fundamentalismo é mais perigoso, o fundamentalismo à esquerda ou o fundamentalismo à direita.
■O fundamentalismo de direita é sempre o risco que nós sabemos que é! Daí que Bolsonaro é um grande risco, mas não é o maior risco neste sabor da questão::
Mais risco ainda que Bolsonaro são os fundamentalistas que flutuam em seu entorno, com formação e preparo ideológico para interferências político-ideológicas formuladas para influenciar opinião, conquistar adeptos e se inserir no tecido social brasileiro.
■Mas no Brasil é cegueira, descuido ou, em certas vezes, é má intenção mesmo, ficar fixado no fundamentalismo de direita e negligenciar e muitas vezes até negar o igual risco que o fundamentalismo de esquerda significa.
=》Temos aqui no Brasil, no temerário sabor ideológico à direita, o "amiguinho" de Donald Tramp.
▪=>Quem é mesmo, o amiguinho de Tramp?
=》Igualmente, e no temerário sabor oposto, o à esquerda, temos aqui no Brasil o amiguinho de Xi Jiping.
▪=>Quem é mesmo, o amiguinho de Jiping?
Fazendo uma lista à direita assim::
▪Donald Tramp
▪Dutert
▪Orbàn
...e seguindo...
E fazendo uma lista à esquerda assim::
▪Xi Jiping
▪Vladimir Putin
▪Kim Jon-Um
...e seguindo...
●Qual das duas listas são perigosas?
●Qual das duas listas devem ser permanentemente denunciadas?
▪Quem no Brasil é cúmplice apoiador da primeira lista?
▪Quem no Brasil é cúmplice apoiador da segunda lista?
●=》 Pois é:: não é apenas Lula que ofende a democracia e é cúmplice das articulações perigosíssimas de fundamentalistas ; Bolsonaro também é!
●Não só Lula, mas Bolsonaro também tem que ser permanentemente denunciado!
Muito bom o artigo da colunista.
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