Folha de S. Paulo
Chegou a hora de os sedizentes liberais
fazerem a lição de casa
Vou aqui empregar, pela primeira vez, à parte alguma distração, a expressão "fazer a lição de casa". Ela frequenta, com sinonímias variadas, o discurso dos sedizentes liberais brasileiros quando se referem a governos, notando à margem que a turma "raiz" não lotaria uma Kombi —do tipo elétrica, claro, para atualizar um chiste antigo. E por que essa conversa sempre me aborreceu? Lembro-me lá dos tempos do primário. Havia a "tarefa": era uma obrigação extra a cumprir. Certamente colaborava com o aprendizado. Mas era também um exercício de disciplina. Como governos não são estudantes de calças curtas (outra antiguidade...), a metáfora sempre me pareceu imprópria. Quando a esse papo-furado se junta o "tersitismo", tanto pior. Hein?
Uma das principais críticas que a turma a que me refiro faz ao arcabouço fiscal negociado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), que atua em nome do presidente Lula, sempre é bom lembrar, diz respeito à sua excessiva dependência do crescimento da receita.
E assim seria, afinal, porque esse governo
se nega a fazer "a lição de casa", que consistiria em cortar gastos.
Essa corrente tem hoje um porta-voz no Congresso: o senador bolsonarista Rogério
Marinho (RN), líder do PL, que migrou com celeridade da condição de um
conservador moderado para a de um reacionário estridente. Ele chega a chorar
quando pensa nas agruras por que passam os golpistas presos. Não sei já visitou
alguma vez a Penitenciária Estadual de Alcaçuz. Se aconteceu, não consta que
tenha encharcado o lenço de lágrimas.
Ao se opor à recuperação, pelo Fisco, do
voto de desempate no Carf, Marinho mandou brasa: "Estamos transformando um
tribunal para dirimir questões entre quem tributa e quem é tributado num local
de arrecadação coercitiva (...). O governo aumenta de forma irresponsável os
gastos públicos e busca resolver seu problema com receitas não
recorrentes". O
Carf é um conselho, não um tribunal. O Brasil era o único país do
mundo em que cabia ao devedor decidir se pagaria ou não a conta.
Na quarta (30) em que senadores de PL, PP e
Republicanos votaram em uníssono contra o
resgate do voto de qualidade, a Câmara endossou a extensão até
2027 da
desoneração da folha de salários de 17 setores —o que não gera nem
emprego nem muxoxo de desagrado daquela turma obcecada por cortar despesas. A
perda de arrecadação para o governo federal é da ordem de R$ 9,7 bilhões. Se
prevalecer o benefício aprovada na Casa também para os municípios, estima-se
uma elisão de outros R$ 7,2 bilhões.
Os mesmos que chamam de "aumento da
carga" a
tributação de "offshores" e "fundos exclusivos"
—uma consideração que se dá com um despudor a céu aberto, como língua de
esgoto— não soltam um pio contra o ataque ao caixa. Em alguns casos, o espírito
crítico cede ao escárnio, como a dizer: "Olhem aí, o Haddad se deu
mal...". Só falta os "kkkkkk".
Visitem ou revisitem, com algum tempo, a
personagem "Tersites", da "Ilíada" ("Tersito" em
algumas traduções). Estava sempre a zombar fosse dos grandes feitos, fosse das
boas intenções. Há quem o veja como o primeiro herói, ou anti-herói, popular.
Fico com as considerações de Hegel em "A Razão na História".
O "tersistismo" é, em essência, o
ressentimento destrutivo: "(...) A sua inveja, o seu egoísmo, é tormento
que ele tem de carregar em sua carne, e o verme eterno que o corrói é o
pensamento torturante de que suas excelentes intenções e críticas não têm
resultado nenhum no mundo". E ainda: "Por isso, homens assim poderão
chegar a tratar outros interesses grandes ou até sagrados sem muita reflexão,
comportamento esse que realmente os sujeita a repreensão moral. Uma
personalidade tão poderosa tem de pisar em muita flor inocente, esmagando
muitas coisas em seu caminho".
Façam, obrigo-me a dizer, "a lição de
casa". Digam como se cortam gastos já, com o necessário assentimento do
Congresso, mantendo uma base apoio e justificando o governo que foi eleito, não
o que foi derrotado, aquele de Marinho... Não se esqueçam da política, sem o
que se faz conta de embusteiros. O "tersitismo", na leitura
hegeliana, é a degeneração do espírito crítico e o triunfo da alegria maligna.
RA é press release. Diogo estava certo,tanto na crítica quanto na sugestão.
ResponderExcluirMAM
●LIBERAIS
ResponderExcluir●ILIBERAIS
●JORNALISTAS NÃO ISENTOS
■Reinaldo Azevedo, neste artigo, detona o senador Rogério Marinho, por críticas que o parlamentar faz a medidas que foram propostas por Fernando Haddad.
▪=>O senador bolsonarista, Rogério Marinho, diz que as medidas de Haddad para complementar a nova Âncora Fiscal provocam aumento da Carga Tributária, como de fato aumentam.
Por criticar esse aumento de carga tributária o senador Rogério Marinho foi assimilado por Reinaldo Azevedo como sendo um liberal.
▪=>Ao mesmo tempo, o senador se calou em relação a uma proposta ruim, do ponto de vista liberal, de manutenção de privilégios para empresas de 17 setores da economia sob a forma de exoneração da carga previdenciária destas empresas, o que um liberal não faria por a proposta ser estruturalmente ruim.
=》Reinaldo Azevedo não gostou e queria que o parlamentar, ora tratado como um economista liberal por Reinaldo ; ora tratado como incoerente com o liberalismo, denunciasse a proposta ruim de diminuição da carga previdenciária das empresas, que é o que faria um bom liberal.
Quando escreve, Reinaldo vai confundindo conceitos e entendimentos e confundindo o tratamento que efetivamente está dando aos fatos ou aos personagens dos fatos para disfarçar o pouco compromisso que tem com conceitos, com os entendimentos e com os valores ao montar seus panfletos escritos para agredir ou desconstruir uns e para agradar e prestar serviço de proteção de imagem para outros.
Reinaldo Azevedo se apropria de conceitos e entendimentos, como o conceito do que é ser um Liberal ou o entendimento do que é um Devido Processo Legal, manobrando estes conceitos e entendimentos para, em umas vezes, xingar, atacar e agredir quem ele quer atingir e, em outras vezes, favorecer políticos e forças políticas que ele quer defender, em vez de cumprir ele, Reinaldo, corretamente o trabalho de informar e esclarecer com isenção enquanto opina, que deve ser o trabalho de um jornalista.
Fazendo as manobras que faz, Reinaldo Azevedo só consegue se desmoralizar como jornalista, que não necessariamente precisa ser imparcial, o que Reinaldo, se tentasse, não conseguiria, mas precisa sempre ser isento, como Reinaldo nunca é.
O que Reinaldo escreve são panfletos de militante, e com isso presta um desserviço à nobreza da informação.
●Mas eu e Reinaldo Azevedo sabemos que o que o senador bolsonarista fez nada tem a ver com ser um liberal autêntico ou com ser alguém que finge ser liberal por disfarse. O que o bolsonarista fez com seu silêncio foi para prejudicar o PT sem se importar com o Brasil, que é a mesma coisa que o PT faz quando o Brasil está sendo governado pir um não petista.
●Nessas questões que tratou neste artigo, seria mais esclarecedor se Reinaldo Azevedo, escrevendo claramente, sem deboches, firúlas, rococós e confusões::
ResponderExcluir■ i) Informasse que o fato de o senador bolsonarista denunciar o aumento de carga tributária que virá com a nova Âncora Fiscal nada tem a ver com ele ser ou não ser um liberal, mas por ele ser incondicionalmente contra Lula e o PT.
■ ii)Informasse que quanto ao senador Rogério Marinho não dizer nada sobre a proposta de exoneração previdenciária que acabaram de renovar para 17 setores da economia e que retira neste ano estimados $9,7Bilhões dos cofres públicos e, em 2024, estimados $19Bilhões, seu silêncio sobre essa desoneração não foi por o senador ser ou não ser liberal, e sim porque é uma proposta que prejudica o governo, que é o que o senador bolsonarista quer fazer.
▪Mas, prestemos atenção em um detalhe antes de espinafrar só um lado::
▪O que o senador bolsonarista Rogério Marinho faz para prejudicar o governo do PT é a mesma coisa que o PT faz para prejudicar os governos, quando não são do PT, o que Reinaldo Azevedo não disse e nunca diz.
Sendo claro e isento assim Reinaldo Azevedo se limparia de ser leviano com os liberais, com o liberalismo e com tantos contra quem tem sido; e com o ganho de passar a ser um jornalista isento, que embora esteja assumindo um lado, não denuncia um erro só quando quem o comete é um adversário.
●UM LIBERAL
■Um liberal não denuncia para ser 'do contra' ou 'do a favor', isso é lá com Populistas, como bolsonaristas e petistas.
▪Um liberal, quando denuncia uma carga tributária como alta ou baixa, é seguindo uma indicação técnica e não uma indicação política, como fazem Rogério Marinho para agradar Bolsonaro ou Haddad para agradar Lula.
▪Um liberal não é quem defende diminuição de carga tributária, como pensa Reinaldo Azevedo, e sim quem defende a carga tributária tecnicamente indicada como a adequada para cada situação.
▪Os liberais podem defender aumento ou diminuição de impostos, dependendo da solução técnica que o problema exigir, porque a questão para um liberal não é se a Carga Tributária é alta ou baixa, mas se ela é a carga tecnicamente adequada.
Essa é a diferença entre um liberal e um populista neste tema: para populistas como Lula e o PT, a Carga Tributária é a indicada politicamente para ganhar voto, com eles se importando pouco que depois isso ferre com o país.
■Para ser isento e claro na sua informação/opinião, Reinaldo Azevedo deveria escrever que o senador bolsonarista se calou sobre a desoneração previdenciária para aquelas empresas, mas que o próprio PT fez pior:: o PT não fechou questão contra manter a renovação do privilégio, deixando livres todos os que quisessem renová-lo.
ResponderExcluirAliás, Reinaldo deveria, antes de atacar só o bolsonarista, se sentir obrigado a recordar que o privilégio que foi renovado, de tirar dinheiro da previdência dos trabalhadores e dar para as empresas, foi originalmente concedido pelo PT, e que o senador bolsonarista Rogério Marinho, com seu silêncio, neste caso só estava se calando sobre um privilégio que anos atrás o próprio PT concedeu e que agora o PT, ao não fechar questão contra a renovação do privilégio, mostrava não se arrepender do dinheiro que tirou da previdência dos trabalhadores e deu para os empresários.
O que Reinaldo Azevedo deveria fazer era denunciar os dois lados, o bolsonarista e o petista, e quem mais os apoiasse em seus erros ou praticasse o que eles praticam, mostrando que esta disputa entre os dois populismos dá empate entre o bolsonarismo e o lulismo, e que quem é derrotado, perdendo de Bilhões a zero com essa polarização entre corruptos, é o Brasil e, principalmente, os brasileiros mais pobres, estes que Lula bota na dívida pública dizendo que está colocando no Orçamento.
E Reinaldo Azevedo, antes de criticar o bolsonarista Rogério Marinho como um antipetista, deveria assumir que também ele, por muito tempo, foi antipetista radical, que atacava o PT por ódio e leviandade, apenas para ser contra o PT, em vez de fazê-lo por crítica legítima.
Agora, Reinaldo Azevedo faz a mesma coisa que fazia contra o PT, só que desta vez ele faz a favor.
Adoro Reinaldo Azevedo,mas não é confiável,ainda ontem ele criticava tudo que vinha da esquerda.
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