Folha de S. Paulo
Espalham-se histórias de que generais ouviram
Bolsonaro pedir golpe. E não o denunciaram
Desde que vazou a possível
delação premiada de "Cid, el golpeador", aparecem relatos de que
o general Freire Gomes peitou a convocação de golpe de Jair
Bolsonaro; que informou a militares próximos que Bolsonaro tratava de golpe
com comandantes das Forças
Armadas, como
relatou esta Folha.
Freire Gomes não negou tais histórias até
agora. Não negou que era corriqueiro Bolsonaro pedir ou convocar golpe. Se é o
caso, há uma lista de militares prevaricadores ou cúmplices a investigar.
A mera tentativa de golpe é crime. Perguntar
se o comando militar vai aderir a um golpe é tentativa de golpe. É crime. Está
pelo menos na Lei do Impeachment.
Freire Gomes foi comandante do Exército no governo das trevas (2019-2022). Cid, "el golpeador", é, claro, o tenente-coronel Mauro Cid, esse trambiqueiro que era lacaio de Bolsonaro. Cid, o oficial-superior da muamba, disse que esteve em uma reunião em que se discutia uma das "minutas" de golpe que circulavam no governo Bolsonaro. Minuta de golpe no governo Bolsonaro era como "barata avoa" em dia quente de lugar sujo.
Augusto
Heleno, general aboletado no GSI sob Bolsonaro, disse nesta terça-feira que
a acusação de Cid era "fantasia", pois um ajudante de ordens não
participaria de reuniões com comandantes de Força Armada. O deputado federal
Rogério Correia (PT-MG) então mostrou uma foto de reunião em que estavam
Heleno, Cid e comandantes. Pfui.
Heleno costuma dizer que não sabe de nada.
Quando havia tentativa de ataques terroristas na Brasília de 2022, ele se
informava pela TV (de pijama?). Esse então era o Gabinete de Segurança
Institucional de Heleno. Nem seguro, nem institucional.
Heleno não disse nada que prestasse à CPI, o
que é seu costume ao menos desde que fomos condenados a saber de sua
existência. Chamou a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), uma mulher trans,
de "o senhor". Na sessão, também soltou palavrões contra a senadora
Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI. É o linguajar da laia dos generais de
Bolsonaro, pelo menos.
Não havia golpe, tentativa, reunião. Mas, a
seu modo, Heleno sabia dos golpistas que faziam baderna em calçada de quartel.
Como disse em junho à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara do Distrito
Federal, os acampamentos de golpistas eram "...um local sadio, onde se
faziam muitas orações, se reuniam para conversar sobre assuntos
políticos"; "...era uma manifestação ordeira e disciplinada".
Sabe tudo, Heleno.
José Múcio, ministro da Defesa, disse também
nesta terça-feira que é preciso achar logo os "bandidos" a fim de que
se desfaça o "manto de suspeição" sobre as Forças Armadas.
Tudo bem. Múcio já perguntou a Freire Gomes e
seus "próximos" se Bolsonaro propunha golpes aos militares? Perguntou
por que a cúpula do Exército nomeou Cid para um comando de prestígio e muito
bem armado, assim que deixou o posto de ajudante de ordens de Bolsonaro (não
tinham "inteligência" sobre Cid?)? Cid, além de tudo, estudara método
de golpe na escola de pós-graduação do Exército. Está documentado.
Múcio disse ainda que as "Forças são
cientes do seu papel, parceiras do governo". Como assim,
"parceiras"? Militares são servidores públicos, de Estado, obrigados
a cumprir leis, entre elas a de trabalhar para qualquer governo, a respeitar
hierarquia. Não são "parceiros" coisa alguma. Ser
"parceiro" envolve arbítrio, depende de vontade, de liberdade de
decidir se colabora ou não. Não existe essa opção.
Em resumo, se amontoam as histórias de que
Bolsonaro discutia o golpe com comandantes militares e muito mais. Essas
pessoas têm de ir à polícia, à CPI. É preciso recolher todas as comunicações
dessa gente. A limpa tem de ser grande, desta vez.
Verdade.
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