O Estado de S. Paulo
O que surpreende é a baixa capacidade de ação do governo para barrar essas propostas
O cenário econômico internacional está para
lá de preocupante para os parlamentares insistirem em aprovar projetos que são
uma “bomba fiscal”, com aumento de despesas ou renúncia de receita. Pode ser
mera coincidência ou não diante da proximidade da apresentação do relatório da
reforma tributária, mas a pauta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Senado virou uma fonte de “pauta-bomba fiscal” a cada semana.
Redução da contribuição previdenciária dos municípios, emendas parlamentares de comissão impositivas, mudanças no Simples, novos benefícios sociais. E renovação dos benefícios da Sudam, Sudene, com inclusão da Sudeco, do Centro-Oeste, com impacto de R$ 15 bilhões.
Tem projeto de passe livre, inclusive, para
estudante da rede privada e incentivos fiscais para empresas reformadoras de
pneus. Nesse caso, um interesse muito específico de parlamentar que tem negócio
nessa área.
A pauta está livre, e a política percebeu
isso. Virou uma oportunidade para aprovar várias medidas. O líder do governo no
Congresso, senador Randolfe Rodrigues, puxou a fila com um projeto que
incorpora cerca de 50 mil funcionários públicos de Rondônia, Roraima e Amapá à
folha salarial da União, na chamada transposição dos servidores dos
ex-territórios, com custo de R$ 6,3 bilhões. O que corre na CAE é que o líder
de Lula teria dito que acertou com o ministro Haddad – mas a história não seria
bem essa. Nunca houve aval da equipe econômica.
O presidente da CAE, Vanderlan Rodrigues, já
falou a interlocutores que os senadores vão apresentando os projetos, e ele vai
pautar. Ou seja: para a CAE, a bola está com o governo para negociar a retirada
das pautas.
Os parlamentares reclamam que a área econômica
não dá bola para a comissão, e Haddad, que leva bolas nas costas por lá. O
surpreendente é a baixa capacidade de ação parlamentar do governo Lula para
barrar essas propostas, mostrando a fragilidade da articulação política.
A CAE tem sido justamente um ambiente
propício de críticas à reforma tributária, e apresentou nesta semana um
relatório paralelo para marcar posição e pressionar o relator, senador Eduardo
Braga. Na próxima semana, quando está prevista a apresentação do relatório, o
impacto dos projetos pautados pode chegar a R$ 40 bilhões.
Os parlamentares seguem brincando com fogo
com esse disparo das pautas-bomba. A tática é dificultar para ganhar. Não há
nenhum compromisso com a saúde das contas públicas. Essa farra precisa acabar
antes que não haja caminho de volta.
Verdade.
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