segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Assis Moreira - Economia global acumula riscos

Valor Econômico

Uma propagação de conflito militar no Oriente Médio alimenta temor de elevação maior do preço do petróleo

A economia global, que já vem desacelerando, acumula novos riscos com a eclosão de conflito militar no Oriente Médio. Não será surpresa se os banqueiros centrais, que se encontrarão esta semana no Marrocos, na reunião anual do FMI e do Banco Mundial, sinalizarem sobre novas tendências inflacionárias e aumento dos riscos globais.

Discussões sobre o ‘payroll' americano em setembro parecem terrivelmente triviais neste momento e podem se tornar notícias de ontem ‘se estivermos entrando em outro choque de oferta impulsionado pela política real’, nota o analista Michael Every, do banco holandês Rabobank.

‘Se há algo que os eventos do fim de semana devem confirmar, é que os banqueiros centrais não estão blefando quando dizem que entramos em um novo e perigoso mundo de fragmentação geopolítica e rivalidade entre grandes potências’, escreve ele em nota do banco.

Enquanto as movimentações no mercado de títulos pareciam caóticas, o lado positivo era uma forte retração nos preços do petróleo bruto, que fez com que o Brent passasse de mais de US$ 97/barril em um determinado momento para US$ 84,58/barril no final da semana. Agora, esse alivio no preço do barril pode ser passageiro, com o ataque do Hamas a Israel no fim de semana devendo pressionar mais os mercados.

Os preços podem subir se os combates se espalharem pela região, especialmente se o Irã se envolver ativamente na guerra. Ou seja, qualquer expansão das batalhas terá repercussões potenciais nos mercados de petróleo.

O analista do Rabobank cita diferentes riscos. O acordo de paz entre a Arábia Saudita e Israel (anti-Irã) e o aumento da produção de petróleo por Riad em 2024 como um adoçante, por enquanto, são coisas do passado. Além disso, o Wall Street Journal publica que "o Irã ajudou a planejar um ataque a Israel durante várias semanas". Para o analista holandês, com base nisso, não se pode descartar um ataque israelense a Teerã, abrindo a porta para ataques iranianos tanto a Israel quanto à Arábia Saudita, ‘independentemente dos recentes sorrisos de escárnio no BRICS’ – Irã e Arabia Saudita foram convidados a entrar no grupo dos grandes emergentes. Israel é uma potência nuclear e o Irã está muito próximo de alcançar o mesmo status.

 

Se Israel iniciar uma guerra terrestre em Gaza, o Hezbollah no Líbano ameaça atacar Israel. As forças israelenses se veriam em uma sangrenta guerra de outras frentes, se milícias iranianas na Síria e no Iraque também forem ativadas. Analistas chamam atenção também para possibilidade de uma intifada ser deflagrada na Cisjordânia.

Tudo isso poderia desestabilizar o Líbano, a Jordânia e o Egito, que tem eleições em dezembro. O analista do Rabobank nota que a população pró-palestina no Egito já está irritada com a alta inflação, e dois turistas israelenses foram mortos a tiros por um policial egípcio em Alexandria no fim de semana. Vale lembrar a importância do Canal de Suez, no Egito, para o comércio mundial. E a Rússia, envolvida até o pescoço na Síria, teria capacidade persistente de desestabilização.

O acúmulo de incertezas aumenta. E evidentemente deteriora a confiança das empresas e dos consumidores sobre as perspectivas da economia.

Nesta segunda-feira, outra notícia na frente econômica é a confirmação de queda da produção industrial da Alemanha pelo quarto mês consecutivo. Os riscos de recessão aumentaram na maior economia da Europa. Ao mesmo tempo, a coalizão no poder, formada por social-democratas, liberais e verdes, sofreu uma derrotada em eleições nos estados da Baviera e de Hesse. A extrema-direita obteve mais votos que os verdes, por exemplo.


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