O Globo
Novo secretário foi indicado por deputado
ligado a miliciano; último escolhido de Cláudio Castro durou 17 dias no cargo
Em três anos, o governador Cláudio Castro
nomeou quatro secretários de Polícia Civil. O primeiro foi preso por
envolvimento com o jogo do bicho. O segundo se arrastou com status de interino.
O terceiro durou apenas 17 dias no cargo. Foi demitido nesta semana, por
exigência da Assembleia Legislativa.
José Renato Torres será lembrado por uma confissão involuntária. Questionado sobre a descoberta de mais 58 celulares em presídios de segurança máxima, alegou que os aparelhos eram úteis para “orientar operações”. A frase atesta a debilidade do Estado do Rio diante do crime.
A declaração desastrada não foi o motivo da
demissão relâmpago. Torres caiu porque resistia a lotear a secretaria entre
deputados que apoiam o governador. Para seu lugar, foi alçado Marcus Amim,
dublê de delegado e influenciador digital.
O novo secretário se projetou ao exaltar a
violência policial e fazer piada com chacinas. “Se me der tiro, vai levar tiro
de volta. É promoção: dá um, leva um montão”, gracejou, num vídeo recente. A
popularidade transbordou das redes para a Alerj. Seu maior padrinho é o
deputado Márcio Canella, próximo a um chefe de milícia na Baixada Fluminense.
Amim não cumpria os requisitos legais para
ser nomeado. Em vez de mudar o indicado, a Assembleia mudou a lei. O texto foi
remendado em 24 horas, apesar dos protestos da oposição. “Se a alteração foi
casuística, faz parte da vida”, desdenhou o bolsonarista Rodrigo Amorim.
Conhecido por quebrar uma placa com o nome de Marielle Franco, ele comanda a
principal comissão da Alerj.
A manobra para emplacar o secretário expôs a
ousadia dos deputados e a fragilidade política do governador, que não consegue
bancar a escolha de um auxiliar direto.
Sem comando, o Rio amarga uma nova onda de
violência. Traficantes e milicianos disputam territórios, facções exibem armas
pesadas a céu aberto e grupos de extermínio agem livremente, como mostrou o
episódio dos médicos executados por engano na Praia da Barra.
A corrupção parece se alastrar como metástase
nas forças de segurança. Na quinta-feira, a Polícia Federal prendeu policiais
civis acusados de escoltarem um caminhão com 16 toneladas de maconha. No dia
seguinte, foi a vez de agentes envolvidos com tráfico de cocaína. Questionado
sobre as operações, o novo secretário disse que a Polícia
Civil “não precisa de babá”. Tratou a promiscuidade com o crime
organizado como uma mera travessura infantil.
Pressionado a agir, o governo federal anuncia
o envio de mais homens da Força Nacional de Segurança. A tropa deve atuar em
rodovias, portos e aeroportos. A ordem é evitar as favelas e não se misturar
com as polícias estaduais. A ver se o reforço fará diferença num estado
conflagrado.
Nos últimos dias, a cúpula do Ministério da
Justiça baixou no Rio para apresentar o plano. O giro incluiu pedidos de
socorro de empresários, desabafos de prefeitos e uma reunião protocolar com o
governador. Com os deputados que mandam e desmandam nas polícias, não houve
conversa. “Eles sabem quem nós somos e nós sabemos quem eles são”, resume uma
autoridade federal.
Vergonheira!
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