O Globo
Relatora elogia Forças Armadas e propõe
medidas inócuas, como incentivar "educação midiática" e criar Dia
Nacional de Defesa da Democracia
O relatório final da CPI do Golpe pediu o
indiciamento de Jair Bolsonaro pela prática de quatro crimes. O ex-presidente
foi acusado de chefiar um complô contra a democracia. Derrotado nas urnas,
tentou rasgar a Constituição e virar a mesa para se perpetuar no poder.
O texto da senadora Eliziane Gama lembra que
o capitão atacou as instituições desde o primeiro dia de governo. Seu projeto
sempre foi autoritário. Não tolerava a existência de Judiciário livre, oposição
ativa ou imprensa independente.
Em busca do poder absoluto, Bolsonaro
fomentou o ódio e a radicalização política. A aposta culminou na intentona de 8
de janeiro, que empurrou o país até a beira do precipício.
O relatório mostra que os atos golpistas não foram espontâneos nem desorganizados, como sustentava o ex-presidente. “Foi uma mobilização idealizada, planejada e preparada com antecedência”, anotou Eliziane. A senadora enumerou provas de que houve método nos ataques. Os extremistas se deslocaram em caravanas, receberam apoio logístico, sabiam o que estavam fazendo.
Apesar de ter maioria na CPI, o governo não
quis convocar Bolsonaro. Escolheu guardar munição para o relatório, a pretexto
de não oferecer palanque ao rival. O Planalto também optou por amaciar com os
militares. Eliziane pediu o indiciamento de nove oficiais-generais, mas
encontrou espaço para elogiar a “postura constitucional das Forças Armadas”. O
equilibrismo atesta que a pressão dos quartéis surtiu efeito.
A CPI teve a chance de propor ações concretas
para barrar a interferência dos quartéis na política, como a mudança do artigo
142 da Constituição. Preferiu sugerir medidas inócuas, como o incentivo à
“educação cidadã e midiática” e a criação de um Dia Nacional de Defesa da
Democracia.
Quem não enfrenta os fantasmas está condenado
a conviver com eles. No início do relatório, Eliziane admite que “a máquina de
ódio continua em operação” e “o 8 de janeiro ainda não terminou”. Neste ponto,
é difícil discordar da senadora. A extrema direita se mantém ativa; as redes
sociais ainda são território livre para a desinformação; e as forças de
segurança não fizeram nada, ou quase nada, para conter o radicalismo em suas
fileiras.
Verdade.
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