Folha de S. Paulo
Voto pode mandar radicais para casa, mas
conflito também pode ser arma do populismo eleitoral
Quando o Hamas estava
prestes a vencer a
eleição de 2006, George W. Bush acreditava que havia uma chance de conter o
radicalismo do grupo. Os americanos entendiam que, no governo, os extremistas
teriam que entregar benefícios e prestar contas aos palestinos. Para isso,
seria preciso seguir um caminho pragmático e evitar o isolamento internacional.
A aposta se mostrou furada. Pouco depois da votação, o grupo aprofundou uma disputa com o Fatah, num embate que levou o Hamas a tomar o poder na Faixa de Gaza. Desde então, não houve eleições gerais ou qualquer espaço significativo para a contestação da autoridade dos extremistas pela via democrática.
Sob esse aspecto, a legitimidade dos métodos
do Hamas é
mais que controversa. Há 17 anos, o grupo venceu a eleição ao denunciar uma
elite corrupta e convencer uma população oprimida a endossar sua proposta de
radicalização. Desde então, sustentou-se em instituições autoritárias, numa
rede de serviços sociais precária e no terrorismo.
A
popularidade do Hamas caiu nesse tempo. Pesquisas feitas pouco antes da
guerra com Israel indicavam
que apenas
um terço dos palestinos acreditava que o grupo merecia representá-los,
ainda que o apoio à ação armada tivesse crescido. A maioria da população
defendia a realização de eleições, mas 67% duvidavam que elas fossem ocorrer
logo.
Algumas ferramentas da democracia servem de
contrapeso ao radicalismo e à violência. Instituições políticas independentes
fazem a contenção de impulsos extremistas, e o eleitor quase sempre pode mandar
de volta para casa o governante que recorre a um conflito e fracassa.
Mas a guerra também pode ser explorada a
favor de governantes em regimes fechados e democracias formais. A disputa com
Israel dá ao Hamas uma brecha para defender suas bandeiras. Sem eleições, resta
saber se a população vai concordar. Do outro lado, Binyamin
Netanyahu tem o conflito como um caminho populista para aumentar suas
chances de sobrevivência política.
Excelente!
ResponderExcluirVerdade.
ResponderExcluir