Folha de S. Paulo
Foco em repatriação e apelos humanitários
reduzem controvérsias enquanto diplomacia afina posição
A agilidade na repatriação
de brasileiros se tornou uma ferramenta importante para Lula num
ponto crítico do conflito entre Israel e
o Hamas.
Com a retirada, o governo pôde celebrar o sucesso de uma ação incontroversa
enquanto afina posições, envia mensagens externas e se desvia de armadilhas
domésticas.
A diplomacia brasileira fez uma opção tática para atravessar a fase inicial da guerra sem comprometer posições históricas ou a cautela exigida do país durante a presidência do Conselho de Segurança da ONU. O caminho escolhido foi a modulação de declarações públicas, o foco em ações operacionais e um apelo vocal à questão humanitária.
A atitude de Lula, protegido de improvisos
durante um período de recolhimento médico, ilustra essa alternativa. Primeiro,
o presidente testou limites da linguagem diplomática ao condenar o terrorismo e
absorveu críticas ao reforçar o compromisso do Itamaraty de
evitar a classificação
do Hamas nessa categoria. Depois, ajustou os holofotes.
O governo brasileiro sabe que qualquer
consideração geopolítica vai gerar protestos e que nenhuma iniciativa
internacional vai solucionar o conflito agora. As recentes declarações de Lula
e do Itamaraty se concentraram, então, na divulgação dos voos de repatriação e
numa cobrança pela preservação da vida de civis.
Uma das principais apostas do país é a
discussão sobre uma intervenção humanitária e a formação de corredores para a
saída de crianças. A
proposta que Lula direcionou ao secretário-geral da ONU incluiu uma
reprovação a ações de guerra, fazendo questão de citar tanto os sequestros
feitos pelo Hamas como os bombardeios israelenses.
Essa linha controlada na diplomacia
brasileira poupa o governo, em alguma medida, de deslizes na arena externa
(como ocorreu após declarações sobre a Guerra da Ucrânia) e de uma disputa
improdutiva entre grupos políticos domésticos. A acomodação, no entanto, deve
se tornar inviável à medida que os
horrores da guerra se acumulam.
O correto é não tomar lado.
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