Folha de S. Paulo
PT e aliados não estavam prontos para reagir
a mudanças políticas e sociais dos últimos tempos
Numa época em que a extrema direita dormia,
o PT se
esquivava de um debate nacional sobre a segurança pública. O partido presidia o
país com um discurso crítico à criação de um ministério para a área e, na falta
de uma política abrangente, prestava contas de um
projeto franzino de patrulhamento de fronteiras com aeronaves não tripuladas.
Os petistas acreditavam que levar o tema para o Palácio do Planalto seria uma cilada. Como a responsabilidade pela segurança é principalmente dos estados, ninguém considerava boa ideia se juntar aos governadores no lamaçal. Além disso, o partido temia que a bandeira dos direitos humanos servisse de escada para defensores da selvageria policial.
A esquerda demorou para perceber que não
seria mais possível manter a cabeça embaixo da terra. O
esforço para cozinhar às pressas um plano para a segurança foi o sinal
de que Lula e
aliados não estavam prontos para reagir às mudanças políticas e sociais da
última década.
A retórica populista que serviu de impulso
para Jair Bolsonaro chegar à Presidência foi a pista mais evidente de que o
eleitor não está interessado nas minúcias das atribuições do governo federal. O
capitão seduziu muita gente com um discurso linha-dura de combate à violência,
ainda que não tenha entregado nenhuma plataforma com pé e cabeça.
A consolidação de grupos criminosos no
interior e nas periferias das grandes cidades foi outro fator de
vulnerabilidade da esquerda. O PT, em particular, perdeu a simpatia de uma base
eleitoral de renda baixa e média ao longo da última década nessas regiões, onde
o cansaço com a violência tornou o terreno fértil para a infiltração da
direita.
A atitude de governantes do partido agravou a
desorientação. A
experiência petista na Bahia durante um ciclo que levou o estado a
incentivar a matança aponta para duas péssimas alternativas: ou os políticos da
sigla não têm ideia de como lidar com a segurança ou concordam com os métodos
exaltados por seus adversários.
Excelente!
ResponderExcluirVerdade.
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