domingo, 15 de outubro de 2023

Bruno Boghossian - Lula ainda busca fórmula para lidar com o novo mundo do trabalho

Folha de S. Paulo

Governo patina numa área que petistas tratam como desafio criado por transformações pós-2013

Lula tinha uma ideia fixa antes de sair de cena para a cirurgia no quadril. Nos dez dias que antecederam a operação, o presidente falou oito vezes sobre o que já chamou de "novo mundo do trabalho". Afirmou estar incomodado com empregos precários e bateu na tecla da regulação dos aplicativos de entregas.

"Tem muita gente trabalhando em condições quase subumanas", disse. "A gente não está naquela de exigir que tenha carteira profissional assinada se não quiser. [...] O que a gente tem preocupação é garantir para ele um sistema de seguridade social, que, quando ele estiver numa situação difícil, tenha o Estado para dar um suporte de sobrevivência."

O mundo do trabalho é hoje bem diferente daquele com que Lula conviveu até 2010. Ainda que uma política para o salário mínimo e o incentivo à abertura de vagas na construção civil tenham efeitos positivos, formuladores petistas reconhecem que o governo precisa encontrar soluções que representem uma atualização de sua plataforma.

A gestão de Lula ainda patina. Nas últimas semanas, o ministro do Trabalho lançou provocações aos aplicativos (propondo uma ideia incipiente de concorrência estatal e sugerindo que as empresas podem ir embora se quiserem) e retomou a pauta do financiamento de sindicatos.

Aliados do presidente admitem que os desafios são maiores e que faltam planos para enfrentar temas como a qualificação profissional para a economia verde e para setores dependentes de novas tecnologias. No caso dos aplicativos, o perigo é aborrecer uma parcela de trabalhadores que temem perder autonomia e rejeitam o controle do governo.

PT considera o assunto delicado porque sua relação política com a classe trabalhadora mudou depois de 2013. Além das transformações nas relações entre patrão e empregado, a última década foi marcada por uma expansão de visões conservadoras sobre o papel do Estado, pelo enfraquecimento do movimento sindical e por uma perda de espaço do partido nas periferias.

 

 

 

 

 

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