O Globo
Lula não acredita que o governo conseguirá
arrumar os R$ 168 bilhões em receitas novas para fechar as contas de 2024
Todo mundo sabia que o governo não
conseguiria zerar o déficit das contas públicas em 2024. Sem drama. No
arcabouço fiscal, há previsão de desvios, com regras de correção. Mas havia
também uma combinação tácita entre integrantes da equipe econômica e analistas
de fora: melhor manter a meta zero porque, sabe como é, aberta uma mínima
brecha, passam bilhões de reais.
Foi exatamente o que fez ontem o presidente
Lula. Abriu não uma brecha, mas um janelão. Deixou claro que, para ele, isso de
déficit zero é uma bobagem. Ele não tem a menor disposição de cortar gastos,
mesmo porque um déficit de 0,5% do PIB “não é nada”.
Há vários subtextos aí. Primeiro: Lula não acredita que o governo conseguirá arrumar os R$ 168 bilhões em receitas novas para fechar as contas de 2024. Sem essa arrecadação, que o ministro Fernando Haddad busca desesperadamente, restaria a opção de cortar despesas, coisa que o presidente rejeita.
Logo, haverá déficit. Aquele nada — 0,5% do
PIB — dá uns R$ 50 bilhões. Em circunstâncias normais, seria nada mesmo. Se o
governo tivesse equilíbrio nas contas. Se a dívida pública estivesse baixa e
controlada. Se os juros já estivessem lá embaixo.
Como é isso mesmo — um enorme “se” —, a
confissão de Lula piora as expectativas. Para este ano, a previsão de déficit
estava em R$ 110 bilhões, até que, nesta semana, o próprio Ministério da
Fazenda admitiu que não contará com algumas receitas esperadas. Mais déficit e,
pois, mais dívida. Já entra piorando no próximo ano.
Daí o segundo subtexto: toda essa conversa de
equilíbrio fiscal é só isso mesmo, conversa. Sim, o ministro Haddad parece
acreditar sinceramente que pode agregar alguma responsabilidade ao governo.
Ou, o verbo já deve ir para o passado?
Acreditava?
Pois Lula disse:
— Não precisamos disso [das metas].
Não digo que estava na cara, mas, quando se
olha o conjunto da obra, o diagnóstico, sim, está na cara. O presidente não tem
programa, a não ser fazer o que ele quer. Mesmo que para isso tenha de dar um
pedaço para o Centrão de Arthur Lira fazer
a sua festa.
Só nesta semana, vários supostos programas e
princípios foram jogados pela janela do Planalto.
O compromisso era colocar mulheres em posição
de comando. E caiu a presidente da Caixa, trocada por um homem. Depois de duas
ministras. Explica Lula: os partidos não têm mulher para indicar.
Na transição, apareceu até um plano nacional
de segurança pública. Depois da sequência de crimes na Bahia, veio a explosão
no Rio, e o governo federal não tinha nada. Ficaram batendo cabeça. É problema
dos governos estaduais, Forças Armadas não podem entrar nisso etc.
Aí vem o ministro Flávio Dino e
anuncia um plano — para daqui a uma semana, claro, mas rigoroso: a Polícia
Rodoviária vigiará as estradas; a Aeronáutica, os aeroportos; a Marinha, os
portos; o Exército, as fronteiras; a Polícia
Federal fará a inteligência para “asfixiar” as finanças do
crime.
Se não era isso, então, faz favor, qual era
mesmo o papel dessas instituições todas? O ministro confessa: aqueles órgãos
simplesmente não estão cumprindo suas funções. Por pura ineficiência e
comodismo.
Há mais quartéis no Rio que nas fronteiras.
Há mais lanchas da Marinha no Rio e noutros litorais do que nos rios da
Amazônia e das fronteiras, por onde passam drogas e armas. Não precisa de um
plano nacional. Precisa de um governo que coloque as coisas para funcionar.
Quer dizer, as coisas corretas.
Depois de Lula, o pessoal do Centrão já saiu
concordando: bobagem mesmo isso de metas fiscais. Se valessem, sabem quais os
primeiros alvos de cortes? As emendas parlamentares, o dinheiro do Orçamento
que os parlamentares distribuem para sua clientela.
E só mais uma coisinha, de exemplo. O Centrão
de Arthur Lira receberá a Caixa com as vice-presidências. O Centrão, sem Lira,
já esteve lá. Geddel Vieira Lima, então MDB, foi vice-presidente da Caixa para
assuntos de pessoas jurídicas, de 2011 a 2013. Em 2017, a polícia encontrou R$
51 milhões em dinheiro vivo, num apartamento usado pelo próprio.
Ah! Sim, Geddel está solto e apoia Lula.
Coluna do Sardenberg? Bobagem!
ResponderExcluir