Folha de S. Paulo
Ministras não caíram por serem mulheres, mas
por ocuparem cargos ao alcance da gula do centrão
As mulheres demitidas de três altos cargos do governo não caíram por serem mulheres. Fosse de gênero o problema até estaríamos num estágio mais avançado nas relações político-institucionais. É na gênese do convívio entre Planalto e Parlamento, na situação minoritária do governo, que mora o xis da questão.
Daniela Carneiro, Ana Moser e Rita Serrano caíram porque estavam em postos ao alcance da conveniência e da possibilidade do governo em ceder ao apetite do centrão que, diga-se, rivaliza com a gula do PT.
Não é a diversidade o que conduz ou aflige o presidente Luiz Inácio da Silva. É a sobrevivência. O critério vale para o Supremo Tribunal Federal, para a Procuradoria-Geral da República e muito mais para um Congresso atuante no modo faca apontada ao peito. Ora mais frouxa, ora mais forte, a pressão é permanente.
Fosse o desapreço à representação feminina o nome do jogo, Nísia Trindade poderia ter sido "saída" do Ministério da Saúde, alvo de cobiça explícita, quando daquele vulgaríssimo rebolado exibido em cerimônia da pasta.
Seria pretexto semelhante ao da exposição da
imagem do presidente da Câmara, Arthur Lira, no lixo que
serviu de oportunidade para a demissão de
Rita Serrano da presidência da Caixa
Econômica Federal. Além disso, Lula testa
uma mulher,
a interina Elizeta Ramos,
na PGR.
O destaque dado ao fato de as substituídas serem mulheres e os substitutos homens dá uma modernizada no tema, mas não apaga a evidência: onde falta a prometida articulação em termos da boa política sobra a barganha escancarada.
Não há mais resquício de pudor. Lira disse
que a Caixa era dele, e o banco foi entregue mediante a liberação automática da
pauta econômica na Câmara.
Não vai parar por aí. A faca foi afrouxada, mas como faltam as vice-presidências, a Funasa, o calendário para liberação de emendas e o que mais vier, voltará a ser apertada sem limite visível no horizonte.
Exatamente.
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