Financial Times / Valor Econômico
Compaixão pelas pessoas inocentes que sofrem em todos os lados desse conflito não é apenas a posição moral, é também o único caminho prático a seguir
De que lado você está – dos israelenses ou
dos palestinos? Você acha que a política do Ocidente deveria ser
apoiar Israel, após o maior massacre de civis israelenses desde a fundação
do Estado em 1948? Ou você acha que o governo de Benjamin Netanyahu está
cometendo atrocidades em massa em Gaza e que a política do Ocidente
deveria exercer a pressão máxima para Israel parar?
Estes são os termos binários em que grande
parte da discussão sobre o conflito israel-palestino está sendo
conduzida. Mas, ao conversar com autoridades em Washington, Bruxelas e outras
capitais europeias, surpreendeu-me o fato de essa não ser a abordagem da
maioria dos líderes ocidentais que se envolveram com Israel na última semana.
Eles afirmam que a melhor alternativa para evitar uma catástrofe humanitária em
Gaza é apoiar Israel.
Isso soa paradoxal – e até mesmo hipócrita.
Mas, pensando melhor, entendo a lógica. Muitos civis já morreram em Gaza e há
muito mais tragédias por vir. A Organização das Nações Unidas (ONU) está
alertando para um desastre iminente.
Mas a melhor chance de amenizar o sofrimento dos civis palestinos é partir da compreensão de que Israel acaba de sofrer uma tragédia sem precedentes e tem o direito e a obrigação de garantir sua própria segurança. Esta é uma política que uma autoridade de alto escalão dos EUA chama de “abraçar com força”. Ele descreve Israel como “traumatizado e assustado”. “Precisamos apresentar isso como uma situação que estamos enfrentando juntos e na qual podemos trabalhar juntos”, diz essa autoridade.
A Casa Branca pensa que só
então Joe Biden será ouvido quando fizer declarações públicas sobre a
necessidade de Israel respeitar as leis de guerra e proteger vidas civis. A
portas fechadas, os políticos poderão então pressionar Israel sobre as
prioridades humanitárias mais urgentes, como o restabelecimento da eletricidade
e da água em Gaza.
Essa abordagem reflete uma compreensão
realista da sociedade israelense. O Estado judeu baseia-se na premissa de que
o antissemitismo é global e impossível de ser erradicado – e que
ninguém salvará os judeus a não ser eles mesmos. Se, mesmo neste momento traumático,
estrangeiros chegaram a Israel com sermões, em vez de uma simpatia profunda e
autêntica, eles não serão ouvidos. O governo israelense e a sociedade como um
todo simplesmente terão confirmada a sua opinião de que precisam calar as vozes
de um mundo hostil – e se concentrar na batalha pela sua própria sobrevivência.
Muitos altos funcionários europeus estão
seguindo uma abordagem semelhante à dos EUA. Um deles diz que “vi Netanyahu
muitas vezes ao longo dos anos, mas nunca o vi desse jeito; ele está
atordoado”. Líderes europeus que estiveram em Israel na semana passada
descobriram que tanto Netanyahu como o presidente Isaac Herzog transferiram
seus gabinetes para o Ministério da Defesa de Israel em Tel Aviv. Com a cidade
ainda sob ataques esporádicos de foguetes, algumas reuniões diplomáticas de
alto nível ocorreram no abrigo antiaéreo do ministério.
Mas a decisão de demonstrar solidariedade
emocional e estratégica a Israel – mesmo quando este bombardeia Gaza – é
controvertida na Europa. A visita a Israel na semana passada pela presidente da
Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, provocou críticas.
Mujtava Rahman, do grupo Eurasia, cita um
funcionário de alto escalão da UE, que acusa von der Leyen de minar o alcance
do sul global, pondo em perigo reféns e diplomatas europeus e dando “carta
branca” a Israel em Gaza. Ouvi queixas parecidas em Bruxelas.
Todas essas preocupações são compreensíveis.
Mas elas não são uma estratégia para convencer Israel a mostrar moderação. Von
der Leyen, assim como os americanos, acredita que o Ocidente tem de começar
ouvindo os israelenses.
Os EUA acreditam que há alguns sinais
iniciais de que sua política poderá render dividendos. Israel anunciou no fim
de semana que o fornecimento de água ao sul de Gaza será restabelecido – uma
decisão tomada durante um telefonema entre Biden e Netanyahu. A América também
aponta para a abertura de rotas seguras para os civis em Gaza, que Israel
afirma que não bombardeará durante certas horas. O governo Biden não acredita –
apesar das conversas nas redes sociais e das declarações de alguns políticos –
que o governo de Netanyahu pretende expulsar todos os palestinos de Gaza para o
Egito.
Para muitos no Ocidente, tudo isso soará como
uma resposta odiosamente branda à morte e à destruição provocada em Gaza. Mas
embora denúncias ocidentais muito mais duras contra Israel possam proporcionar
uma oportunidade para expressar indignação, é improvável que elas façam muita
coisa pelos palestinos que sofrem.
No curto prazo, Israel é um país bem armado
que acredita estar lutando pela sua sobrevivência. Ele não será parado por uma
resolução do Parlamento Europeu ou da Assembleia Geral da ONU.
A longo prazo, o Ocidente ficará
profundamente dividido sobre o conflito israel-palestino –, dividido a ponto de
o movimento de “boicote, desinvestimento e sanções” contra Israel obter avanços
reais. Esse movimento ganhará novos seguidores em razão do que está acontecendo
em Gaza. Mas o grupo que acredita intensamente na defesa de Israel também
aumentará em número, devido ao que o Hamas fez. A ideia de que a UE ou os EUA
jamais chegarão a um consenso para isolar e boicotar Israel é profundamente
ilusória.
A compaixão pelas pessoas inocentes que
sofrem em todos os lados desse conflito não é apenas a posição moral. É também
o único caminho prático a seguir.
É impressionante o contorcionismo do autor pra justificar o apoio a Israel. É muita imbecilidade reunida!
ResponderExcluirOs palestinos não precisam ser protegidos, os palestinos prečisam é de ter garantido o seu direito a ter um Estado ; um Estado geografica e economicamente viável, é do que os palestinos precisam.
ResponderExcluirApós ter o seu Estado estabelecido e reconhecido pela Comunidade das Nações, os palestinos poderão eles mesmos se defenderem ; e poderão eles se responsabilizarem por gerir seu território.
Caso estando com seu Estado politicamente estabelecido os palestinos façam a proteção de terroristas, como o Hamas e o Hezbollah, terão que responder por suas escolhas como Estado, arcando com as consequências.
Mas os palestinos e qualquer povo não precisa ser protegido ; precisa, isto sim, é ter seus direitos reconhecidos!