O Globo
Forças Armadas não subirão morros. Ações
combinam inteligência e operação, mas não podem abrir mão de ações sociais
O ministro da Justiça, Flávio Dino, revelou
ontem, em debate com entidades de classe e representantes da sociedade civil na
sede da Firjan, no Rio, que está em discussão dentro do governo o uso das
Forças Armadas no combate ao crime organizado no estado. Ele e o ministro da
Defesa, José Mucio, já discutem como operacionalizar a atuação, mas Dino deixou
claro que não há ainda decisão, que deverá passar obrigatoriamente pelo
presidente Lula. Advertiu que uma coisa é certa: as Forças Armadas não subirão
morros.
O ministro Dino citou como exemplo de possível atuação das Forças Armadas a exitosa Operação Ágata, na Amazônia, em que elas atuam em cooperação com Polícia Federal, Ibama, Receita Federal e Abin para combater delitos transfronteiriços e ambientais na fronteira com a Colômbia.
O presidente da Firjan, empresário Eduardo
Eugenio Gouvêa Vieira, reuniu representantes da sociedade civil e presidentes
das instituições que têm sede no Rio de Janeiro, como Academia Brasileira de
Letras (ABL), Associação Comercial e Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (Cebri), para debater a questão da segurança pública no estado.
O ministro da Justiça e Segurança Pública fez um balanço dos avanços já
obtidos.
Ele se declarou, mais uma vez, contra a
criação de um Ministério da Segurança Pública, pela questão federativa, mas
admitiu que 90% de seu tempo é dedicado ao tema diariamente. O secretário
executivo do ministério e chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional
(GSI), Ricardo Cappelli, também presente, permanecerá no Rio nos próximos dias,
com os diretores da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, para
acompanhar as diversas operações em curso.
Uma das medidas adotadas, que vem tendo
sucesso, é a rede nacional de bloqueio de bens. Segundo Dino, ela já
desapropriou 268 apartamentos pertencentes a traficantes e milicianos e
bloqueou cerca de R$ 3 bilhões em bens. Ele citou também a atuação da Polícia
Rodoviária Federal (PRF) no combate ao desvio de cargas nas estradas. Anunciou
que a PRF atuará cada vez mais em conjunto com a PF e as polícias estaduais.
Dino foi confrontado com o depoimento do
sociólogo José Cláudio Souza Alves, da UFRRJ, que estuda o crime organizado há
mais de 30 anos e tem visão pessimista da situação no Rio. Ele acredita que o
crime organizado, seja tráfico ou milícia, está entranhado nas instituições do
Rio, principalmente a política, e que o combate à situação demandará, mais que
a pura confrontação armada, também uma verdadeira “disputa pelas pessoas”,
ações sociais que mostrem aos moradores das comunidades e periferias que o
Estado se preocupa com elas e lhes dá uma perspectiva, além de lhes garantir a
segurança necessária para não aderirem às práticas criminosas.
Dino concordou com a gravidade da situação e
lembrou que as ações combinam inteligência e operação, mas não podem abrir mão
de ações sociais. Chamou a atenção para o fato de existir desde 2018, a partir
do Ministério da Segurança Pública chefiado pelo ex-deputado Raul Jungmann, uma
lei que cria o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), nunca implementada
pelos governos subsequentes, que, garantiu, só agora está saindo do papel.
Ela permite que o governo central atue na
coordenação das ações em diversos estados, sem que seja necessário abrir mão da
autonomia dos entes federativos. Por fim, anunciou que já está na Casa Civil a
proposta de criação de uma Guarda Nacional permanente, para substituir a Força
Nacional, instituição que deveria ser provisória e até hoje é necessária em
diversas atuações, inclusive agora no Rio.
Pois é.
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