O Globo
Krenak encarna uma visão integrada dos
humanos com a natureza, e acredita que mares, rios, florestas fazem parte de
“um futuro ancestral”, justamente por já existirem mesmo antes da humanidade.
A eleição do filósofo, escritor e ativista
indígena Ailton Krenak para a Academia Brasileira de Letras (ABL) na
quinta-feira retrata um momento histórico em que a preservação da cultura
indígena está em debate no Brasil, com a discussão do marco temporal, e o seu
papel intelectual na defesa do meio-ambiente e da floresta Amazônica se destaca
e ganha dimensão internacional.
Krenak encarna uma visão integrada dos humanos com a natureza, e acredita que mares, rios, florestas fazem parte de “um futuro ancestral”, título de um dos seus livros, justamente por já existirem mesmo antes da humanidade.
À medida que as informações sobre questões
climáticas, biodiversidade, recursos hídricos e indígenas vêm aumentando no
país, cresce também a necessidade de um pensamento estratégico de longo prazo
para a definição de políticas públicas, como o plano de prevenção contra
desmatamento da Amazônia.
É grande a expectativa de que o país volte a
liderar pelo exemplo na pauta ambiental às vésperas da reunião da COP25 na
Amazônia. Na visão da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, há desafios para
o governo brasileiro chegar em condições de servir de exemplo na reunião de
Belém, como fazer avançar a agenda econômica de sustentabilidade, para o Brasil
exercer o papel de mediador de um novo acordo, pois o de Paris está frágil.
Entre as questões principais está o uso de
combustíveis fósseis. Marina lembra que o mundo não consegue US$ 100 bilhões do
Acordo de Paris para transição energética, mas investe entre US$ 4 a 6 trilhões
na velha economia. “Há um dilema aí”. Os conflitos internacionais levaram a uma
mudança de prioridades: antes se falava em transição energética, agora se fala
em segurança energética.
China e Índia não têm como prescindir da
energia fóssil, a Europa recuou na transição com a guerra na Ucrânia, a França
tem matriz nuclear. Alemanha abandonou a energia nuclear, mas depende do gás.
Marina insiste em que o Brasil pode ter matriz 100% limpa sem precisar de
energia nuclear, e lembra que o país, apesar disso, é um dos maiores emissores
de gases. O hidrogênio verde é uma oportunidade, assim como foi o etanol,
tecnologia não poluente em que o Brasil despontou como pioneiro no mundo,
situação que não sustentamos por questões econômicas. Mas ainda temos vantagem
competitiva razoável no setor.
Outra oportunidade é a agricultura de baixo
carbono. Marina lembra que o Plano Safra de R$ 400 bi agora incentiva menos
emissões. “Se não fosse assim, lá na frente, quando começassem a precificar
carbono e nossos produtos começassem a ser barrados, todos reclamariam”. O
Brasil também pode liderar articulação global para proteção de florestas.
Cobrando um dólar de cada barril de petróleo, já ajudaria muito a proteger as
florestas, diz a ministra.
Para ela, o debate central está na matriz
energética global. Sem acordo internacional, a pressão por continuar usando
combustíveis fósseis será enorme. Temos de diminuir 43% das emissões até 2030 e
63% até 2035. Qual seria solução? Imposto? Moratória? Pico do petróleo? O
debate não está acontecendo, lamenta a ministra Marina Silva. Será preciso
mecanismo financeiro, pois empresas que tomaram a decisão ética de fazer a
transição pagaram preço em valor de mercado.
Melhor solução seria imposto progressivo para
financiar proteção das florestas e energia limpa. O Brasil está superando a
fase em que abandonou aos especuladores e exploradores das riquezas nacionais a
floresta amazônica, e dados apontam redução significativa no desmatamento da
região, resultado de ação pesada de comando e controle, e do fim da expectativa
de impunidade.
A licença para Margem Equatorial foi negada
não em cima da decisão de que não se explorará petróleo, esclarece a ministra,
mas por insuficiência das soluções apresentadas. Dez técnicos entenderam que
solução para fauna não estava adequada. O aeroporto é próximo da terra
indígena, aumentará movimentação. Por fim, há a questão dos corais. A decisão
de explorar, ressalta Marina, é do Conselho de Política Energética, não do
ministério nem do Ibama.
Marina entende do riscado.
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