O Globo
No início deste ano, poucos acreditavam que a
inflação poderia ficar na meta. Agora o mercado já vê isto como realidade
Poucos acreditavam até recentemente que a
inflação terminaria o ano na meta, mas ontem a mediana do mercado apostou nisso
pela primeira vez em três anos. O economista José Roberto Mendonça de Barros
vinha dizendo que esse cenário era possível há algum tempo. Agora a previsão da
sua consultoria é a de que o IPCA terminará o ano em 4,71%. Perto do teto, mas
dentro do espaço de flutuação permitido pelo regime de metas. Esse resultado se
deve em grande parte à queda da inflação de alimentos. Do fim do ano passado
até o fim deste ano pode ocorrer uma inversão de 17 pontos na inflação da alimentação
no domicílio.
— No ano passado, este item terminou com uma inflação de 13,2%. Nossa projeção agora, junto com a MB Agro, é que chegue a dezembro de 2023 com -3,3%, uma virada de 17pp. Isso aí equivale a um abono salarial para as classes C e D. E é justamente a inflação de alimentos no domicílio que é a mais importante —diz Mendonça de Barros.
O Boletim Focus é apenas uma verificação do
que está nos modelos dos economistas de mercado financeiro e consultorias. É
semanal, portanto, o cenário pode ser outro daqui a sete dias. Mas essa é a
primeira vez em mais de três anos que a mediana das projeções do mercado para
2023 é de inflação abaixo do teto da meta. A última vez que houve essa projeção
foi em junho de 2020.
Em 2020, a inflação terminou em 4,52%, dentro
do espaço de flutuação da meta, mas a alta de alimentos foi de 14%. Em 2021, o
IPCA terminou o ano em 10%, para um teto da meta de 5,25%. Em 2022, o governo
fez muitos artifícios, como a suspensão dos impostos sobre combustíveis, e
conseguiu reduzir a taxa, mesmo assim ficou em 5,79% com o teto em 5%.
José Roberto Mendonça de Barros acha que nem
mesmo o El Niño mudará a tendência este ano que é de inflação dentro do espaço
de flutuação da meta, um resultado que poucos acreditavam ser possível. Há riscos
do desequilíbrio climático, mas Mendonça de Barros avalia que o maior peso será
no ano que vem. Essa é a mesma convicção do professor Luiz Roberto Cunha, da
PUC do Rio. Os riscos climáticos não terão efeito este ano.
—Os preços subiram um pouco, mas a
alimentação no domicílio está ainda negativa, o IPA ( dos preços do atacado)
tem estado negativo, parte pela soja, milho — diz Luiz Roberto.
Por outro lado, a guerra no Oriente Médio é
um risco presente, porque pode afetar o petróleo e, por consequência, os
combustíveis. A questão, explica Luiz Roberto Cunha, é que a desaceleração da
economia mundial reduz essa pressão.
—O envolvimento muito grande numa guerra (dos
países produtores) pode jogar o preço do petróleo a US$ 100, mas a
desaceleração da economia mundial tem segurado muito o preço. Se tiver um
conflito em grande escala a economia terá problemas — afirma Cunha.
A LCA mudou sua projeção para a inflação de
5% para 4,7%, na semana passada, porque tirou de cena a hipótese de um novo
reajuste importante da gasolina no último trimestre, já que a defasagem caiu.
De acordo com a Abicom, o combustível está com defasagem de apenas 1%. Em 14 de
setembro, era de 12%. O economista Fábio Romão, da LCA, que desde o começo do
ano previa deflação para o grupo de alimentos e bebidas, projeta queda de -2,6%
no item alimentação no domicílio.
José Roberto Mendonça de Barros explica que a
inflação deste ano caiu por causa do aumento de produção em diversos produtos.
Leite, por exemplo, teve queda de preço, e os produtores culpam as importações.
O economista diz que a compra do exterior foi pequena, o que realmente afetou
foi que a produção de leite aumentou 10%.
— Para o ano que vem, o que dá para dizer é
que não haverá uma ajuda especial vinda da agricultura. Se os preços ficarem
mais ou menos como estão vai ser uma maravilha. O plantio vai ser bom,
consistente com a safra colhida este ano, mas o potencial de perda pelo clima é
bastante significativo. Dá para falar com firmeza que o ano de 2023, do ponto
de vista do consumidor, mas também do ponto de vista do produtor, está sendo um
ano excepcional no volume, na produtividade, na renda e no benefício ao
consumidor. A exceção é o Rio Grande do Sul, que enfrentou seca no começo do
ano e enxurrada agora. Por isso, um dos produtos que teve alta de preços e
redução da oferta foi o arroz.
O ano de 2023 está no seu último trimestre
confirmando um crescimento maior do que o esperado e uma inflação menor do que
a prevista.
Tomara.
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