O Globo
A sobrevivência de Israel depende da
existência de um estado palestino livre, afirma Michel Gherman, coordenador do
Instituto Brasil-Israel
A sobrevivência de Israel depende da
existência de um estado palestino livre. Essa é a convicção do professor Michel
Gherman. Em entrevista que me concedeu, o historiador da UFRJ e coordenador do
Instituto Brasil-Israel fala da dor dos judeus nestes dias e da profunda crise
política de Israel. Gherman define o que aconteceu no sábado, com o ataque
terrorista do Hamas, com uma frase forte. “A gente está falando do pior dia
para o povo judeu desde o holocausto”.
Há muitas cenas sendo descritas, mas uma
delas já seria suficiente para ilustrar essa afirmação. No kibutz de Be’eri,
que fica perto da fronteira, os terroristas do Hamas entraram e mataram todos
os jovens de 15 a 17 anos que estavam quase na idade de irem para o Exército.
—Uma geração inteira foi exterminada.
Voltando um pouco no tempo, ele diz que já
houve possibilidade de convivência entre palestinos e judeus naquela região.
— Eu estive uma vez em Gaza. Fui para comer um peixe. Hoje uma pessoa como eu não pode ir a Gaza. As colônias agrícolas perto da fronteira são de movimentos ligados à esquerda sionista, ao progressismo sionista. Aqueles que investiram durante muito tempo na construção de um acordo entre palestinos e israelenses. Havia um contato cotidiano, não só de ‘você trabalha para mim, e eu sou muito seu amigo’. Havia uma construção de horizontes, de expectativas. Mas a partir de 2005, ou um pouco antes, isso se rompeu — diz o professor.
Por outro lado, diz, é muito difícil ser
palestino em Gaza. Em parte pelo fechamento da área determinada por Israel e em
parte pela opressão do próprio Hamas.
— A cidade de Hamas não era religiosa, era
mais secular do que se imagina. O Hamas é um movimento que lembra as milícias.
O direito das mulheres é absolutamente complicado para não falar em outras
minorias. Há uma comunidade cigana em Gaza que é muito perseguida.
Depois de um evento tão traumático como esse,
o que vai acontecer? Michel Gherman se diz “absolutamente pessimista e
profundamente otimista”. Ele acha que estamos num momento da história em que o
ponteiro para. Pode ser que ocorra algo “ainda pior do que já foi com a
produção do ódio como agenda política”. Mas tudo é tão terrível que pode acabar
abrindo uma janela de oportunidade.
Ele acha que o atentado é apenas uma parte do
projeto bem pensado do Hamas. A segunda etapa seria provocar o envolvimento do
Hezbollah na fronteira norte, e levar o conflito a se espalhar por outros
países, a começar do Irã. Perguntei se ele achava possível a entrada militar de
Israel em Gaza por terra.
— Entradas por terra já aconteceram muitas e
há treinamento para isso, o problema é que há várias questões no momento. O Sul
de Israel foi pego sem proteção, concretamente o Exército de Israel não
conseguiu proteger a sua população dentro da fronteira e isso muda a percepção
da possibilidade de invasão. E ainda tem os reféns. Tem uma questão psicológica
envolvida: se o Exército não nos protegeu aqui dentro, como protegerá lá fora?
E isso tem a ver com a crise política.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, como
se sabe, tentava promover uma redução dos poderes do judiciário num movimento
conhecido da extrema direita, em que se ataca a democracia oferecendo
segurança. Só que ele falhou em entregar a segurança. O governo se enfraqueceu
ainda mais. Uma pesquisa da terça-feira mostrou que 55% da população querem que
ele renuncie.
O programa que fiz com Gherman na GloboNews
foi gravado de manhã, e ele falou da possibilidade de um acordo com a oposição
tendo como uma das âncoras o ex- primeiro-ministro Benny Gantz.
Foi o que aconteceu durante a tarde. Ele acha
que nesse cenário, Benny Gantz pode acabar virando o próximo primeiro-ministro.
No fim do programa eu perguntei se há a
possibilidade de paz sem que haja o estabelecimento de um estado Palestino. Ele
disse que não.
—O fim da ocupação dos territórios palestinos
ocupados em 1967 com a criação de um estado palestino é bom para o mundo, é bom
para Israel. Israel tem a sua sobrevivência garantida na existência de um
estado palestino livre, justo e vivendo em paz com Israel, com lideranças
moderadas e no qual o Hamas deixe de ser relevante. Sem isso, a democracia de
Israel está em risco, não por causa da invasão, mas por causa da ocupação.
Um pouco de bom senso é sempre interessante. Especialmente o último parágrafo!
ResponderExcluirVerdade.
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