segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Primárias na Venezuela indicam disputa incerta entre Maduro e Corina

Folha de S. Paulo

Opositora é favorita no lado contrário ao regime, mas foi inabilitada pela ditadura; votação ocorre com problemas logísticos

Os venezuelanos votaram neste domingo (22) para decidir quem será o único candidato a disputar as eleições de 2024 contra o ditador do país, Nicolás Maduro, no poder há dez anos.

Favorita nas pesquisas das primárias, María Corina Machado, 56, que está na ala mais radical da oposição, é apontada como vitoriosa pela apuração inicial das urnas. Ela é engenheira industrial e ex-deputada.

Mas Corina está inabilitada para exercer cargos públicos por 15 anos. Esse fator a impediria de registrar sua candidatura no próximo ano.

A votação começou às 8h no horário local (9h em Brasília), mas vários dos mais de 3.000 centros de votação atrasaram. Segundo especialistas consultados pela agência de notícias AFP, cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram do pleito. As urnas foram fechadas no início da noite, quando começou a apuração.

Sem assistência técnica do Conselho Nacional Eleitoral, as primárias foram organizadas pela oposição e enfrentaram uma série de problemas logísticos, como a definição e a instalação de centros de votação.

"O material não chegou, algumas pessoas vieram para exercer o direito de voto e saíram, mas pretendem retornar quando o material chegar", disse à AFP Yampiero Mendoza, 41, que ofereceu sua casa como centro de votação em Catia, um bairro de Caracas, que é reduto do chavismo.

Filas se formaram em diversos locais de votação. "Conseguir realizar as primárias é uma conquista por si só", declarou também à agência o cientista político e professor Jorge Morán. "Superaram uma infinidade de obstáculos e ameaças externas."

Ao todo, 21 milhões de venezuelanos estavam habilitados para votar nas primárias. O pleito ocorreu cinco dias após a ditadura de Maduro e a oposição assinarem um acordo eleitoral, que fixou as eleições presidenciais para o segundo semestre de 2024.

O compromisso prevê que o pleito seja competitivo e que conte com a participação de observadores da União Europeia e de órgãos internacionais.

Segundo o documento, cada lado pode escolher seus candidatos. Embora ainda não tenha lançado oficialmente sua campanha, a expectativa é que Maduro concorra novamente para se manter no cargo.

A supervisão do pleito era uma das condições estabelecidas pelos Estados Unidos para afrouxar sanções contra o setor de óleo e gás da Venezuela. Com o acordo, a Casa Branca respondeu com o alívio nas restrições ao comércio de petróleo do país sul-americano.

Entre as medidas anunciadas pelos EUA estão duas licenças gerais, sendo uma delas de seis meses que autoriza negociações com a indústria de óleo e gás venezuelana, e outra para a empresa estatal de mineração de ouro Minerven.

A Casa Branca, contudo, ameaçou reverter o alívio das sanções caso a ditadura venezuelana não suspenda as proibições que impedem algumas pessoas da oposição de assumirem cargos, disse a agência de notícias Reuters.

Além das questões que prejudicam a escolha de um rival de Maduro, a oposição venezuelana está dividida, especialmente depois do fracasso do governo paralelo autodeclarado em 2019 por Juan Guaidó e apoiado por vários países do mundo, como os próprios EUA e o Brasil.

À época, as eleições no país foram criticadas internacionalmente, com acusações de fraude. Mas Maduro acusou os EUA de liderarem um complô contra o seu regime e se negou a sair do poder, permanecendo por uma década no comando do país.

 

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