Folha de S. Paulo
Devemos ir além do espanto falsamente
humanista, muitas vezes insincero
"É horrível, desumano e inaceitável. Os
palestinos são humanos e têm que ser tratados como tal. Não importa a razão.
Estão bombardeando
civis. Isso não seria aceitável em nenhum outro lugar —apenas
na Palestina",
afirmou de forma certeira à Folha Mariam Said.
Em tempos obtusos quando a autodeclarada complexidade ofusca o horror, é cada vez mais difícil ter a clareza moral contra as atrocidades da guerra. Solidarizar-se com vítimas civis, de ambos os lados, não é uma posição inocente, é a mais digna; fazê-lo nos permite criticar tanto o regime de apartheid imposto por Israel aos palestinos quanto o regime de terror imposto pelo Hamas.
Clareza nos permite, inclusive, separar o
todo da parte. Criticar o Estado de Israel é possível sem cair no
antissemitismo; bem como criticar a estratégia militar do Hamas é possível sem
cair no desprezo a vidas palestinas. Salem Nasser,
meu colega na FGV, está correto ao perguntar por que costumamos praticar o
ultraje seletivo. Devemos, igualmente, ir além do espanto falsamente humanista,
muitas vezes insincero: não esqueçamos os fundamentos racistas, coloniais,
capitalistas e orientalistas que impulsionam o divisionismo, inclusive no
crescente abandono da causa palestina por países árabes.
Desumanização como arma política está no
centro da guerra e não começou no último sábado (7): o braço militar do Hamas
desumaniza civis israelenses atacando-os de maneira indiscriminada, e o premiê
de extrema direita Netanyahu,
"ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação", como definiu o jornal
israelense Haaretz, priva palestinos de qualquer possibilidade de sair da
prisão a céu aberto a que foram jogados, dá munição para a expansão territorial
ilegal de Israel e fortalece ao invés de minar os mais radicais.
Evidências de crimes de guerra abundam, seja
no rapto de
civis pelo Hamas, seja na fome como arma de guerra por Israel.
Se algum dia sairemos deste horror, talvez o caminho comece por encontrar uma
linguagem que nos permita descrevê-lo.
PERFEITO! PERFEITO! Simplesmente perfeito! Disparadamente, a melhor coluna que li recentemente sobre as violências no Oriente Médio.
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