Folha de S. Paulo
Criação de tributo sobre compras de menos de
US$ 50 pode demorar pelo menos dois meses
Empresários do varejo têm procurado gente do
governo para pedir a cobrança de imposto
sobre as importações de produtos com valor até US$ 50 —além desse
valor, a alíquota é de 60%. Para as compras por meio de plataformas de comércio
eletrônico que aderem ao programa "Remessa
Conforme", não há imposto federal, apenas 17% de ICMS (estadual).
Gente do governo diz que vai haver imposto,
mas é difícil que se adote alguma decisão em menos de dois meses. Quanto
imposto? Talvez uma alíquota entre 20% e 25% (além dos 17% do ICMS). É possível
também que se discuta um aumento
do ICMS estadual, para 25%. O assunto ainda está enrolado.
No começo do ano, o Ministério da Fazenda tentou colocar ordem nessas importações e na cobrança de imposto. Deu o rolo sabido, pois a providência é impopular e caiu nas redes insociáveis. Em abril, a Fazenda deu um passo atrás, por ordem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em junho, a Fazenda lançou o "Remessa
Conforme", uma tentativa de dar um jeito na desordem do negócio.
Plataformas que aderissem ao programa, que exige informações sobre remessas e
preços, entre outras, poderiam vender sem pagar imposto federal. O sistema funciona
desde 1º de agosto.
Até agora, Shein e
Sinerlog estão com a certificação "implementada". Aliexpress, Mercado
Livre e Shopee estão "certificadas", mas "em implantação:
requisitos para benefício da alíquota zero ainda não atendidos", segundo
se lia no site da Receita Federal no fim da sexta-feira (29).
O pessoal do grande varejo brasileiro está
nervoso. Quer uma atitude do governo antes da temporada maior de vendas, entre
a Black Friday (fim de outubro) e o Natal. Tem levado suas reivindicações não
apenas à Fazenda, mas também ao Ministério do Desenvolvimento, ao Ministério da
Justiça e até a ministros "políticos" do Planalto, onde se diz que as
empresas nacionais "não vão ficar no sereno".
No início do ano, partiu "do
Planalto" a reação às iniciativas impopulares da Fazenda. No Ministério da
Justiça deve haver alguma investigação sobre fraudes nas importações por meio
das plataformas.
Na Fazenda, tenta-se entender o tamanho do
problema. Até o início do ano, apenas 2% das remessas eram fiscalizadas. Agora,
a taxa se aproxima de 40%. Começa a haver mais informação sobre esse tipo de
comércio e fraudes. Tenta-se estimar o tamanho da perda de arrecadação também.
A importação via plataforma eletrônica explodiu
entre 2017-2019. Em 2018, vieram cerca de 70 milhões de remessas. Em 2022, 178
milhões. De janeiro a julho deste ano, foram 123 milhões de volumes. Em agosto
de 2023 apenas, foram 20 milhões. Se esta for a média do restante do ano, em
2023 viriam 223 milhões de pacotes.
Quanto às alíquotas, estuda-se como definir
um nível de tributação que "garanta concorrência isonômica", sem
proteção excessiva para a empresa nacional (muitas querem a alíquota de 60%) e
facilidades daninhas para as estrangeiras. Um "técnico" do governo,
sem poder de decisão, diz que, dadas as alíquotas médias de importação no
Brasil, seria possível pensar em algo como pelo menos 25%.
O pessoal do varejo se queixa de concorrência
desleal e ilegal. Além de não haver imposto federal, haveria contrabando
("pacotes dentro de pacotes") e subfaturamento. Dizem que os
importados não têm certificação e rótulos de qualidade, segurança e composição
dos produtos. Varejo, indústria e empregos perdem.
Seja lá o que o governo fizer a respeito de
imposto, vai haver problema. Deixar a empresa nacional sem proteção alguma vai
causar prejuízo. Cobrar imposto vai irritar o consumidor.
Se correr o bicho pega...
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