Folha de S. Paulo
Energia, escola infantil, risco de
privatização da saúde, ambiente: há tanto assunto bom
Temos uns assuntos importantes e
interessantes para discutir, mesmo no universo nada divertido da economia. Mas
nunca deixamos de discutir um assunto rudimentar, de resto de maneira tosca:
uma dívida pública grande, cara (juros altos) e que é tratada de modo leviano,
desinformado, demagógico e burro, ou uma mistura disso tudo.
A pauta do Congresso, cheia de projetos de
estourar déficit e dívida, e a conversa desta sexta-feira (27) do presidente
Luiz Inácio Lula da
Silva são exemplos desse diversionismo destrutivo. Pior e mais espantoso, Lula
assim sabota o próprio governo.
Há tanto assunto crucial, para o que até o governo pode contribuir.
Quica na área a bola de uma discussão grande,
urgente e de efeitos imediatos e de longo prazo: energia. Qual é o nosso plano?
Vamos explorar mais petróleo e evitar que, a partir de 2030, no auge, a
produção nacional caia? O que vai ser de etanol e biocombustíveis, com a
perspectiva do carro
elétrico e outras eletrificações? Haverá um plano de incentivos para o
hidrogênio verde? Como vai ser a exploração do lítio? Vamos fazer um pouco de
tudo isso? Faz sentido econômico?
Poderíamos debater os números do Censo, sobre
o envelhecimento do país. O que dizem sobre o tamanho da força de trabalho, a
taxa de pessoas que trabalham ou procuram emprego e seus efeitos para a
economia?
Educação? Como
criar creches e escolas infantis maravilhosas para que crianças pobres cheguem
à alfabetização com as mesmas condições das crianças ricas, assim tendo mais
oportunidade de ir bem adiante na educação, para citar apenas um benefício?
SUS? Na surdina, a saúde vai
sendo privatizada, o que não é bom para a eficiência geral e para a justiça do
sistema. No agregado, na conta final, sistemas públicos são mais eficientes:
mais saúde com menos gasto. Nós vamos para a privatização, em um país meio
pobre e muito desigual. Vai prestar ainda menos.
Como conter a emissão de gases de estufa,
manter a produtividade agropecuária, utilizar tal programa para o
desenvolvimento industrial e tecnológico e, ainda, ganhar algum dinheiro e peso
na política externa?
Etc.
O país, apesar de em geral avesso a livros,
pobrinho e com essa elite econômica tosca, tem gente qualificada bastante para
discutir e tocar tais projetos. Com mais inteligência e justiça, arrumamos até
recursos para vários deles.
O que temos discutido? Emenda parlamentar
para obra paroquial de parlamentar ferrabrás, quando não negocista, com o que
não sobre quase nada para obras que resolvam problemas de fundo, que dirá para
desenvolvimento científico e tecnológico, à míngua e mal estruturado.
Temos discutido como evitar que a Reforma
Tributária e o que resta de Orçamento sejam arrebentados. Há lobby ainda maior
para que se façam favores a tais e quais empresas, categorias profissionais e
para o "desenvolvimento regional" do bolso de quem vive da
intermediação ou rapina de tais verbas, de empresas a políticos.
Agora, depois de algum tempo até contido, o
presidente da República vem com essa história de tratar o déficit, a dívida e o
próprio plano fiscal de seu governo com descaso escarninho, desinformado e
negacionista.
Em suma, Luiz Inácio Lula da Silva disse que,
para ter umas obrazinhas ou sei lá o quê, deixe-se para lá o déficit. Que a
meta de déficit zero é "ganância do mercado", um delírio demagógico.
Ganância vai haver com esse tipo de conversa:
os donos do dinheiro grosso vão cobrar mais caro para financiar déficit e
dívida maiores do governo. E assim pagarão mais caro as empresas, os clientes
de bancos etc. E assim haverá menos "obras" no país inteiro (o
governo federal faz apenas 3% do investimento total
do país).
O desânimo é muito grande.
Sim.
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