Folha de S. Paulo
Petista passeia fora de seu campo político
para buscar acordos que dariam estabilidade ao governo
Lula fez
uma tabelinha com Gilmar Mendes e Alexandre de
Moraes para definir suas indicações ao STF e à
PGR. A jogada importa menos pelo envolvimento político da corte na articulação
e mais pelos personagens que o petista reconheceu como negociadores
preferenciais no tribunal.
Gilmar e Moraes foram nomeados por
adversários do PT.
Nenhum dos dois fazia questão de disfarçar suas críticas ao partido ou
convicções que estavam distantes da esquerda.
Se buscasse impor uma marca ideológica, Lula não teria aceitado a sugestão da dupla para emplacar o conservador Paulo Gonet na chefia da PGR. Também não teria costurado uma aliança entre os dois e Flávio Dino antes de indicá-lo para o STF.
Ainda que o Supremo delibere
sobre marco temporal, aborto e drogas, Lula não vê o tribunal com
preocupação na seara ideológica —e essa não parece ser exatamente uma
prioridade para o petista. A relação do presidente com a corte se dá a partir
dos acordos políticos que podem garantir estabilidade ao governo.
A aproximação entre Lula, Gilmar e Moraes se
deve em boa parte ao bolsonarismo. Os últimos anos redefiniram o alinhamento
dos integrantes do STF e fabricaram uma coesão movida pela autopreservação dos
poderes do tribunal.
Também contou o peso que os dois ministros
acumulam no jogo de influências da corte. Eles lideram articulações internas
nos grandes e pequenos julgamentos, além de exercer autoridade fora do STF,
como nas indicações para cargos relevantes.
Seis das onze cadeiras do tribunal são
ocupadas por ministros nomeados em governos petistas. Dino, se aprovado, será o
sétimo. Mas Lula entende que essa maioria não vale tanto quanto a ajuda que
pode ser fornecida pelos estrangeiros Gilmar e Moraes (com a expectativa de que
Dino se junte a eles nessa missão).
O petista tem o costume de passear fora de
seu campo político quando enxerga benefícios. Ele já se
aliou a José Sarney, engoliu a seco um acordo com Arthur Lira e
indicou para o STF o conservador Cristiano Zanin.
Pois é.
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