sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Bruno Boghossian - Rio foi estopim, mas São Paulo tem peso em plano de segurança

Folha de S. Paulo

Inclusão do porto de Santos e escolha de trechos de fronteira têm crime organizado paulista como alvo

A crise no Rio foi o estopim para o pacote de segurança do governo federal, mas São Paulo aparece com peso no plano. Boa parte das medidas assinadas por Lula tem como alvo o crime organizado paulista.

A presença militar no porto de Santos e no aeroporto de Guarulhos tem o objetivo de atingir a distribuição de drogas pelo PCC. Em 2021, a Receita apreendeu 17 toneladas de cocaína no porto de Santos, contra 5 toneladas no Rio, de acordo com dados divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"O problema que existe no Rio existe em escala maior no porto de Santos, uma atividade que irradia a violência urbana para municípios vizinhos. Se vamos por esse caminho, temos que incluir Santos e Guarulhos", disse à coluna Flávio Dino (Justiça).

Os trechos de fronteira escolhidos pelo governo para receber um reforço também são aqueles que abastecem a facção paulista: Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A região de Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai, por exemplo, é um local estratégico para o PCC.

Rotas da Amazônia, mais usadas por quadrilhas do Rio, farão parte de outro pacote, específico para a região, que será lançado na semana que vem. O governo reconhece que criminosos deverão buscar novos caminhos para a droga, mas entende que o custo para reorganizar essas redes pode enfraquecer as facções.

O foco no Rio e em São Paulo, segundo Dino, parte da avaliação de que os polos do crime organizado nos estados têm impacto nacional. "Nosso problema mais agudo são as metrópoles, porque a atividade criminosa se irradia para todo o país."

Restam dúvidas sobre a eficácia do pacote porque portos, aeroportos e fronteiras já são espaços monitorados pela PF e pelas Forças Armadas. O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, destacou ainda que o plano não enfrenta o domínio armado de territórios pelas facções. "A droga é só uma parte do problema. As operações não resolvem a questão das milícias", apontou.

 

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