Valor Econômico
“Fake News” ameaçam destruir a vida em
sociedade
Há apreensão dentro do PT com o panorama
eleitoral que se desenha para 2024, em um balanço de como anda o espírito da
opinião pública exatamente um ano depois da vitória do atual presidente Luiz
Inácio Lula da Silva sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A avaliação de um dirigente petista bem
próximo de Lula, escolado em campanhas presidenciais e atento leitor de
pesquisas, é que a polarização se cristalizou. Bolsonaro politicamente está
ferido de morte, mas o antipetismo está mais forte. Todo o ganho de
legitimidade que Lula recebeu depois do fracasso da intentona golpista de 8 de
janeiro se esboroou. “Esse é nosso principal problema”, constata esse
dirigente.
Havia a expectativa que a dinâmica política desencadeada pelo 8 de janeiro poderia estabelecer uma ponte entre o presidente e franja do eleitorado que rejeitou Lula nas urnas em 2022, mas que não se mistura com o bolsonarismo duro. Isso não se deu.
E a economia, que poderia facilitar no
estabelecimento dessas pontes, manda seus sinais de alerta, como ficou evidente
no recuo do governo em relação à meta de se zerar o déficit público em 2024.
Essa desautorização do discurso fiscalista do ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, na realidade, é a primeira consequência desses sinais de alerta.
A queda de arrecadação do ICMS beirando a
dois dígitos no primeiro semestre deste ano, em comparação com 2022, em que
pesem erros de política econômica cometidos por Bolsonaro na reta final de seu
governo e cujas consequências se sentem agora, sinaliza que a economia anda de
lado. O cenário internacional, com perspectivas de recessão americana e freio
na China, é um complicador.
Uma crise econômica sem que a crise política esteja resolvida parece ser o ponto de partida para a campanha eleitoral do próximo ano. E nessa perspectiva a tentação de se usar a máquina pública para uma injeção de adrenalina na economia é muito forte em um governo de centro-esquerda. E particularmente em relação ao Orçamento do próximo ano a flexibilização da meta convém ao Centrão, porque diminui consideravelmente a possibilidade de contingenciamento de emendas parlamentares.
2024 e 2026
Em relação a 2024 e mesmo já em um primeiro
ensaio de 2026, Bolsonaro politicamente fora do jogo conjugado a um antipetismo
que permanece forte não necessariamente abre caminho para uma menor
radicalização. O centro político continua “esmagado pelos dois polos”,
constatou um veterano político antipetista que não se mistura com o
bolsonarismo, ainda que a ele possa associar-se, o deputado Mendonça Filho
(União Brasil-PE).
O PT está abdicando de concorrer com nomes
próprios em muitos dos grandes centros em 2024, e o PL ao que tudo indica
crescerá em número de prefeituras, mas é bastante improvável que ganhe em
colégios eleitorais decisivos. A eventual reeleição de prefeitos centristas,
como o do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD) ou o de São Paulo, Ricardo Nunes
(MDB), não quebra essa lógica. Paes no momento está alinhado a Lula e Nunes ao
bolsonarismo.
A economia sem vitalidade complica uma
possível vitória de Guilherme Boulos (Psol) na capital paulista, que teria um
simbolismo forte, tanto de renovação dentro da esquerda como de avanço político
para a base de Lula. Em um quadro de polarização, é mais difícil para Boulos
quebrar a barreira do antipetismo (para um antipetista convicto o Psol é uma
versão piorada do PT).
Fica como um fantasma para a esquerda a
eleição de 2004, há precisamente 20 anos. A disputa replicou em muitos colégios
eleitorais, São Paulo inclusive, a polarização nacional de dois anos antes, e
terminou de maneira desfavorável aos petistas. Naquela ocasião a economia não
ajudou os candidatos governistas. O “espetáculo do crescimento” que salvou o PT
das urnas só veio em 2006, possibilitando uma reeleição relativamente difícil
para Lula.
Nenhum resultado eleitoral no próximo ano
tende a influenciar a organização do antipetismo para 2026. Há cada vez mais
motivos para se voltar os olhos para o governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos), por mais que os governadores de outros Estados, como
Romeu Zema (Minas), Ratinho Júnior (Paraná) e Ronaldo Caiado (Goiás) se
movimentem.
Não é por outro motivo que a discussão sobre
uma federação partidária do PP com o Republicanos ou o União Brasil tende a ser
relançada, como admite o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), um
entusiasta da alternativa Tarcísio.
O governador de São Paulo evita a armadilha
de seus antecessores, que se posicionaram como presidenciáveis de forma
prematura, em um clima de disputa dentro do próprio grupo político. Hospeda
Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes e aparece em público batendo continência
para seu ex-chefe, mas mantém um silêncio ensurdecedor em relação às polêmicas
da extrema-direita.
Ele portanto tem mais capacidade de agregar, mas diferentemente dos outros três governadores citados tem também a alternativa de concorrer a um novo mandato dentro de três anos.
Muito boa a análise do colunista! O antipetismo está mesmo ainda forte, e o PT e Lula certamente deram muitos motivos para que ele se ampliasse (como nosso colega Edson tanto se esforça para divulgar neste blog), mas, por outro lado, várias melhorias na situação da população brasileira também decorreram dos acertos dos governos federais petistas nas 2 últimas décadas.
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