O Globo
Ambientalismo corre o risco de se isolar num
gueto político
Greta
Thunberg subiu à plataforma, diante de 85 mil manifestantes reunidos
em Amsterdã, para falar sobre clima, mas discursou sobre Gaza. A ativista,
agora com 20 anos, usava um keffiyeh (lenço palestino) ao redor do pescoço.
Clamou contra a ação militar israelense, mas não pronunciou nenhuma frase sobre
os atentados do Hamas.
Naquele dia, 12 de novembro, o movimento ambiental sofreu uma cisão. Só se
reerguerá se conseguir chegar à idade adulta.
Uma criança triste, solitária, deprimida, diagnosticada com síndrome de Asperger, transtorno que afeta a capacidade de comunicação e socialização. A descrição de Greta, oferecida por sua mãe, ilumina sua trajetória — e a do movimento ambiental. Aos 15, a adolescente tornou-se subitamente um ícone, ao liderar uma greve escolar pelo clima. Aos 16, perante a cúpula climática da ONU de 2019, pronunciou a célebre frase “Como vocês se atrevem!?”, dirigindo-se aos adultos do mundo no tom de uma diretora escolar que repreende crianças traquinas. Fez sucesso, num tempo que prefere a clareza cortante ao exame nuançado de dilemas difíceis.
A criança teimosa reordenou a sintaxe do
movimento ambiental num sentido regressivo. Os partidos verdes da Europa
aprenderam aos poucos o valor do diálogo, da negociação e de acordos
incrementais. Greta, porém, recusou o caminho da política realista, escolhendo
o atalho do principismo inconciliável. Nos encontros internacionais sobre o
clima, quase não mencionou líderes negacionistas como Trump, Putin, Modi ou
Bolsonaro, dirigindo críticas implacáveis justamente aos países comprometidos
com a redução das emissões, que não podem realizar subitamente todos os seus
desejos.
“Como alguém se atreve a me contrariar?” Duas
décadas atrás, o movimento ambiental ensaiou um debate de fundo sobre o papel
da energia nuclear na transição verde, mas logo recuou para o conforto de seu
dogma adolescente. O Partido Verde alemão impôs a fatídica decisão de
fechamento das centrais nucleares — e, hoje, na coalizão de governo, paga o
preço do erro colossal, ratificando a reativação de minas carboníferas
destinadas a substituir o gás russo. Entretanto as tendências mais genuinamente
infantis emergem nas ações de vandalismo de grupúsculos como o Extinction
Rebellion, cujo resultado é a desmoralização pública da agenda climática.
Greta superou sua solidão pessoal ao
tornar-se a voz inflexível de multidões de jovens engajados numa causa
universal. Durante a pandemia, deu um novo passo, aproximando-se dos ativistas
europeus do movimento “decolonial”. Segundo a cartilha deles, a crise ambiental
não é um fruto histórico das sociedades industriais, mas um pecado específico
do “imperialismo ocidental”, com seu cortejo de injustiças globais. O keffiyeh
do 12 de novembro simboliza a mutação — e ameaça isolar o ambientalismo num
gueto político.
Os oradores da manifestação de Amsterdã não
falaram contra a violência, mas exclusivamente contra a violência de Israel. Não
defenderam a paz em dois Estados, mas dedicaram-se a traçar paralelos abjetos
entre Israel e o nazismo. O antissemitismo estava lá, à luz do sol.
A causa palestina sempre
foi objeto de veneração na esquerda radical europeia: a síntese da resistência
à opressão colonial. Israel não seria uma nação erguida por imigrantes judeus
perseguidos, mas um posto avançado do imperialismo ocidental que precisa ser
eliminado. Joschka Fischer, um dos líderes da rebelião estudantil de 1968,
acreditava nisso quando participou de um encontro da OLP em Argel, em 1969.
Depois, sob o impacto da operação terrorista de Entebbe (1976) e dos atentados
do Grupo Baader-Meinhof, mudou de ideia e, na sequência, ajudou a construir o
Partido Verde alemão.
Fischer transitou da esquerda radical para o
movimento ambiental. Greta percorre trajetória oposta, subordinando a agenda do
clima à retórica “decolonial”. Como explica Ida Korhonen, sua companheira de
movimento: “Não devemos mais falar sobre nós mesmos, mas apenas sobre a
Palestina”, porque “guerra contra o povo é, também e sempre, guerra contra a
natureza”. A infância pode ser eterna.
Uau, detonou a vagaba. MAM
ResponderExcluirhttps://www.theguardian.com/global-development/2023/nov/08/gaza-diary-part-18-how-many-people-are-we-going-to-lose-before-we-get-out-of-this-nightmare
ResponderExcluirhttps://www.economist.com/cdn-cgi/image/width=834,quality=80,format=auto/content-assets/images/20231202_BLP901.jpg
https://www.middleeasteye.net/sites/default/files/000_33XW7RQ%20%281%29.jpg
https://www-middleeasteye-net.translate.goog/sites/default/files/styles/article_page/public/images-story/000_344H6LB.jpg.webp?itok=RNvFkiyA&_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
https://www.economist.com/cdn-cgi/image/width=834,quality=80,format=auto/content-assets/images/20231104_MAP003.jpg
https://i.guim.co.uk/img/media/ac79b326ddf1cc6f89252a1e4f1118c73743b355/0_59_3322_1993/master/3322.jpg?width=1140&quality=85&auto=format&fit=max&s=276007e82f5fa957df5da958935f7b1d
Uau, o Neves lê em inglês. So what? MAM
ResponderExcluirDemétrio demetriando.
ResponderExcluirVidas de cidadãos palestinos sob constante ameaça na “sociedade doente" de Israel: ex-membro palestino do Knesset
ResponderExcluirhttps://www-aa-com-tr.translate.goog/en/middle-east/lives-of-palestinian-citizens-under-constant-threat-in-israel-s-sick-society-ex-palestinian-knesset-member/3066907?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
Estes rapazes palestinos foram submetidos a uma cirurgia que salvou vidas nos EUA. Um ataque aéreo israelense os matou em sua casa
https://www-theguardian-com.translate.goog/world/2023/nov/28/palestine-children-surgery-gaza-israel-airstrike-killed?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
https://cdnuploads.aa.com.tr/uploads/Contents/2023/11/28/thumbs_b_c_62d222882cbadceca4fea29f060f77f0.jpg?v=084528
https://imagenes.elpais.com/resizer/xfQPNg7awweuP1HFOr-3eAKRhsw=/828x466/cloudfront-eu-central-1.images.arcpublishing.com/prisa/XPUUKT2NTRB3TASGZTUJ2J4WHY.jpg
https://i.guim.co.uk/img/media/53bc45454133c8c53c1492eda449c1c48407d88c/0_0_6000_4000/master/6000.jpg?width=700&dpr=1&s=none
https://www.middleeasteye.net/sites/default/files/styles/article_page/public/2023-11/000_3436983%20%281%29.jpg.webp?itok=uP2urxWX
https://www-middleeasteye-net.translate.goog/sites/default/files/styles/article_page/public/images-story/gaza-khan-yunis-13-nov-2023-israel-airstrike-reuters.jpg.webp?itok=HyIuof6z&_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt
Lembrando...As opiniões contidas na coluna do D.M..... refletem necessariamente a opinião do jornal O Globo
ResponderExcluirPra mim chega!
ResponderExcluirhttps://www.gettyimages.com.br/fotos/children-killed-gaza?assettype=image&phrase=children%20killed%20gaza&sort=mostpopular&license=rf%2Crm
Lembrando, Neves é anti Ocidente.O resto é cascata e recalque. MAM
ResponderExcluirMarcos! Se você quer entender, vai ter que estudar muito.
ResponderExcluirhttps://www.aa.com.tr/en/middle-east/israeli-journalist-gideon-levy-occupation-wont-end-until-israel-pays-the-price/3066543
Neves ......
ResponderExcluirO HAMAS só pode ser chamado de GRUPO TERRORISTA. Eu justifico esta afirmativa porque o hamas é anacional. Sendo assim, a acusação de crime de guerra só é válida para nações estabelecidas e que são representadas por um exército. O hamas é diferente. Ele força a sua população a invadir o território alheio para cometer crimes desumanos (aqueles que fogem das caracteristicas humanas), e se protegem atrás desta mesma população.
praca: Se você quer entender, vai ter que estudar muito.
ResponderExcluirApenas uma reflexão: crimes desumanos (aqueles que fogem das características humanas) Defina crime humano. Ex: Caim matou Abel. Consideradas as cisrcunstancias, é crime humano?