Folha de S. Paulo
No afã de lacrar, governo e oposição não
tratam com objetividade os problemas do país
O Ministério da
Justiça tem exibido especial vocação para atrair polêmicas e
divergências. Seja pela personalidade algo provocativa do ministro Flávio Dino,
que faz a festa dos adversários, seja por acontecimentos que o colocam no
centro da arena onde se dá o embate ideológico entre governo e oposição.
O mais recente, todo mundo sabe, foi a descoberta de que uma mulher casada com um preso chefão do tráfico no Amazonas esteve em audiências com secretários e diretores da pasta, na condição de presidente de uma ONG financiada pelo Comando Vermelho, facção do marido. Condenada por lavagem de dinheiro, ela recorre em liberdade e, assim, pôde transitar por gabinetes oficiais em Brasília.
Grave? Muito. Aceitável? De jeito nenhum.
Mas, daí a dizer que isso é sinal de conivência do governo com o crime
organizado há uma distância abissal. Manipulam os fatos os autores da tese. Bem
como manobram com a realidade aqueles que, a pretexto de defender o ministro de
uma acusação injusta, pretendem dar ao caso ares de invencionice conspiratória.
Ambas as versões são falsas, embora se
misturem nesse mundo de escaramuças vazias em que o importante é emplacar o
relato mais conveniente aos narradores.
A falha do ministério ocorreu, houve o reconhecimento
do descaso na filtragem dos visitantes, foi criado um protocolo de
atendimento e poderíamos ter ficado por aí, mas não. A necessidade de alimentar
a dinâmica da exorbitância das redes incorporada pela política se impõe de
parte a parte.
Ocorre, contudo, que os eleitos para os
exercícios de governo e oposição têm objetivos a serem cumpridos, compromissos
assumidos na urna que não podem nem devem se conduzir pela lógica do
descompromisso dos pelejadores de internet.
Portanto, conviria a suas altezas baixarem as
respectivas bolas, parar de lacrar e agir no sentido de providenciar algo de
melhor para o Brasil. Vale para direita e esquerda
Sim.
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