O Globo
É difícil imaginar que, das toneladas de
escombros e da terra agora arrasada em Gaza, possa brotar, algum dia, alguma
flor
Lá se vão 104 anos, e a cada início de
novembro papoulas vermelhas começam a adornar capotes e blusas, ternos e
fraques, batinas, uniformes, aventais ou outra vestimenta qualquer envergada
por membros da comunidade britânica. Seja na lapela de apresentadores da BBC ou de
açougueiros de Glasgow, a papoula faz bonito, mesmo em tempos tão feios como os
de hoje. E, sempre às 11h de cada dia 11 do mês 11, o ornamento escarlate fala
alto, sozinho, enquanto a população faz dois minutos de silêncio para
homenagear seus milhões de soldados tombados em guerras.
O tributo atende pelo nome de Remembrance Day, dia de relembrar, e nasceu do armistício assinado em Compiègne, no norte da França, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial e obrigou a Alemanha a sair dos países que invadira. A Grande Guerra resultara numa terra arrasada sem precedentes, e a escolha da papoula como símbolo de dor e perda brotara dos campos de batalha de Flandres. Segundo relatos de soldados entrincheirados naquela região, a terra fora revirada com tamanho furor pelos combates que sementes de papoulas dormentes havia décadas começaram a florescer por toda parte. Desde então, poppies artificiais são fabricadas aos milhões pelos veteranos de guerra britânicos, e portadas à altura do coração. Piegas? Não. Inútil? Talvez, mas relembrar não mata.
Com a guerra de Israel aos terroristas
palestinos do Hamas entrando no segundo mês, é difícil imaginar que, das
toneladas de escombros e da terra agora arrasada em Gaza, possa brotar,
algum dia, alguma flor. Até porque, mesmo antes do conflito atual, pouco
brotava naquele solo arenoso ou argiloso governado pelo Hamas desde 2007,
submetido a bloqueio israelense há 16 anos. Por ora, cada bebê palestino
nascido em meio ao caos — a fugas, bombas, carências desumanizantes — poderá,
se conseguir manter-se agarrado à vida, ser considerado uma papoula. Os mais de
240 reféns em mãos do terror palestino desde o ataque de 7 de outubro também.
Ambos simbolizam a teimosia humana em sobreviver a seu pior inimigo, o próprio
ser humano.
Nesta semana coube ao jornalismo fazer seu
primeiro teste de confiabilidade na cobertura da guerra. O ponto de partida foi
um relatório divulgado pela HonestReporting, organização israelense que
monitora a mídia e aponta o que considera desinformação sobre o país e o
sionismo. Divulgado na quarta-feira, o relatório teve ramificações sérias, pois
sugeria que os primeiros jornalistas palestinos a documentar o ataque do Hamas
a Israel — cujas imagens foram estampadas em grande veículos de imprensa
ocidentais — talvez soubessem de antemão do plano terrorista. Algumas das
perguntas constantes do relatório que sugeria atropelo de ética da profissão:
“Será concebível assumir que ‘jornalistas’ estivessem por acaso na fronteira
[de Gaza com Israel], logo cedo de manhã, sem coordenação prévia com os
terroristas?”, “Ou seriam eles parte do plano?”, “As redações das respeitáveis
agências noticiosas que publicaram suas fotos aprovaram sua presença em
território inimigo, junto aos infiltrados terroristas?”, “Os fotojornalistas
que atuam como freelancer para veículos como a CNN e o New York
Times notificaram esses veículos?”.
Enquanto o ex-embaixador de Israel junto à
ONU e o ex-ministro da Defesa Benny Gantz exigiam tratamento de terrorista —
leia-se, a morte — a todo repórter que tivesse sido avisado do ataque pelo
Hamas, as maiores organizações mundiais de mídia (NYTimes, CNN, Associated
Press, Reuters) emitiam comunicados negando qualquer informação prévia da ação.
Segundo as investigações internas que se seguiram, as primeiras imagens
recebidas pelos veículos citados foram geradas entre 45 e 90 longos minutos
depois do início da operação terrorista. Ademais, desde a primeira saraivada de
mísseis a partir de Gaza naquela manhã, disparada bem antes do assalto
terrestre, qualquer repórter antenado se deslocaria para a fronteira.
No dia seguinte à denúncia, o próprio diretor
executivo do HonestReporting esclareceu que o grupo não tinha nenhuma evidência
de conluio prévio por parte dos fotojornalistas palestinos:
— Apenas fizemos perguntas, e a mídia
esclareceu a verdade. Ótimo — declarou Gil Hoffman.
De todo modo, registre-se que tanto AP quanto
CNN anunciaram não mais recorrer ao trabalho do freelancer palestino Hassan
Eslaiah, cuja foto antiga em que aparece abraçado pelo líder do Hamas Yehia
Sinwar surgiu nas redes sociais.
Nenhum conflito anterior recente gerou
ativismo tão explosivo em redações mundo afora. Nos Estados Unidos, nem mesmo a
Guerra do Vietnã levou a manifestos e cartas abertas assinados por nomes de
peso, tanto em defesa de Israel como a favor da Palestina. No front, a cena
tampouco tem precedentes: 39 jornalistas de Gaza já perderam a vida só nas
primeiras semanas da guerra. Ainda falta muito para poder celebrar papoulas.
39 jornalistas mortos em Gaza, mais de 70 funcionários da ONU, maioria dos hospitais destruídos, escritórios da ONU, campos de refugiados, escolas... Nada escapa dos ataques diários israelenses contra CIVIS PALESTINOS em Gaza, que já mataram mais de 12 mil palestinos, sendo mais de 4.500 CRIANÇAS. Só para comparação, os ataques do Hamas mataram 31 crianças israelenses. Para "se defender", Israel comete CRIMES DE GUERRA desde o primeiro dia de seus ataques. EUA e Europa falam tanto em direitos humanos, mas só se interessam pelos direitos dos israelenses. 2 milhões de palestinos vivem em Gaza sob o TERROR espalhado pelos israelenses, com cumplicidade da União Europeia e dos EUA, para quem os palestinos representam menos que animais.
ResponderExcluirOs animais domésticos também foram e estão sendo mortos,uma carnificina geral.
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