Correio Braziliense
Joe Biden e Xi Jinping deverão se encontrar na
Califórnia, durante a 30ª reunião do Fórum de Cooperação Econômica
Ásia-Pacífico
A primeira nação a atacar o povo judeu após o
êxodo do Egito foi Amalek, um antigo povo bíblico de Canaan. Há muito essa
nação desapareceu, mas continua viva nos corações israelitas, como lembrou Omer
Bartov, professor de estudos sobre o genocídio e o Holocausto na Universidade
de Brown, em artigo publicado no “The New York Times” e reproduzido no Estadão.
“Vocês devem se lembrar do que Amalek fez com vocês”, disse o primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu em 28 de outubro, ao anunciar que a retaliação de Israel ao
ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro seria arrasadora. Mas está sendo
muito mais violenta do que se imaginava, inclusive para os Estados Unidos, que
apoiam Israel incondicionalmente.
Antes, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, dissera:“Nós estamos combatendo animais e estamos agindo como corresponde”. O major-general Ghassan Alian, comandante israelense de atividades governamentais nos territórios, endossou:“Animais tem de ser tratados como tal”; “não haverá eletricidade nem água, haverá apenas destruição. Vocês desejaram o inferno e terão o inferno”. Diante dos assassinatos de crianças, mulheres e idosos pelos terroristas do Hamas em território Israelense, era uma reação previsível.
As comparações bíblicas são claríssimas.
Amalek cresceu na família de Esaú e adquiriu o ódio patológico aos judeus. Seus
descendentes se tornaram a nação de Amalek, ao sul da Terra de Israel, no
Deserto de Negev. Depois da travessia do Mar Vermelho, quando os judeus se
recuperavam em Refidim, Amalek lançou um covarde ataque de surpresa sobre eles.
Moisés, líder dos judeus, ordenou que seu discípulo Yehoshua, à frente de uma
tropa de elite, contra-atacasse e matasse os guerreiros de Amalek, o que foi
feito. Moisés prometeu varrer totalmente a lembrança de Amalek da face da
terra, numa guerra eterna. Seu nome e trono não estariam completos até que
Amalek fosse destruído.
Quarenta anos depois, quando o rei canaanita
de Arad lançou um ataque selvagem contra os judeus, os sábios concluíram que
Arad e seus soldados eram amalequitas disfarçados. O plano fracassou, os judeus
foram vitoriosos e continuaram a entrar na Terra de Israel. Por essa razão, no
Shabat anterior à festa de Purim, a ação de Amalek é lembrada na leitura da
Torá. Em Purim, os judeus foram salvos do perverso Haman, um descendente do rei
amalequita. Comemora-se a destruição de Amalek até hoje nos lares israelitas.
O rabino da Brigada Nahal, capitão Amichai
Friedman, antes da entrada em Gaza, exortou seus soldados: “A terra é nossa,
toda a terra, incluindo Gaza, incluindo o Líbano”. Na Torá, o livro de
Deutoronômio (11:24), citado por Netanyahu, diz: “Todo lugar onde vocês puserem
os pés será de vocês. O seu território se estenderá do deserto do Líbano ao do
rio Eufrates ao Ocidental”. O ataque terrorista do Hamas legitimou internamente
a política de Benjamin Netanyahu para a Cisjordânia, que é ocupada por Israel e
está sendo gradativamente colonizada, e o projeto de limpeza étnica da Faixa de
Gaza, cujo Norte já se tornou inabitável. O plano de estado-maior do Ministério
de Inteligência de Israel já era mover toda a população palestina da Faixa de
Gaza para a Península do Sinai, o que só não acontece agora porque o Egito
fechou a fronteira e impediu o êxodo dos refugiados.
Donbass, Gaza e Taiwan
Entretanto, a guerra de Gaza tornou-se o
epicentro de uma disputa muito maior. Ao contrário do Brasil, na presidência do
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a China ainda não
convocou nenhuma reunião do órgão. Quem tem pressa agora são os Estados Unidos,
para recuperar o controle sobre a crise em Gaza. A Rússia não faz nenhuma
questão de aprovar uma resolução, depois do veto americano à proposta de
cessar-fogo humanitária brasileira, que foi aprovada por 12 votos a um e duas
abstenções. O massacre de civis palestinos em seu território legitima a
ocupação da região de Donbass, na Ucrânia, e um novo ataque à Odessa, cujo
controle é uma das ambições do presidente russo Vladimir Putin, pode ocorrer a
qualquer momento. O Exército russo tem 350 mil homens posicionados na fronteira
para uma nova ofensiva.
No próximo dia 15, o presidente dos Estados
Unidos, Joe Biden, e o presidente chinês, Xi Jinping, deverão se encontrar na
Califórnia, durante a 30ª reunião dos líderes do Fórum de Cooperação Econômica
Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês), que ocorrerá de 11 a 17 de novembro,
com a participação de 21 países, que representam metade do comércio mundial e
40% dos habitantes da Terra. Os dois países protagonizam uma guerra comercial
que está se transformando em nova guerra fria.
A China nunca reconheceu a independência de Taiwan, que está para os Estados Unidos no Mar das China como Israel no Oriente Médio. O apoio incondicional dos Estados Unidos à ocupação da Palestina permitiria à China, moralmente, invadir e exigir a reintegração de Taiwan ao seu território, como aconteceu com as ilhas de Hong Kong (Reino Unido) e Macau (Portugal). Entretanto, o mundo estaria à beira da Terceira Guerra Mundial. Biden e Jinping, porém, juntos, têm condições de promover o cessar-fogo na Ucrânia e/ou em Gaza, se resolverem dar um basta à instabilidade mundial.
E tomara que dê.
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