Valor Econômico
Lula indicou o ministro da Justiça para a
vaga deixada por Rosa Weber no STF; nomeação ainda depende de aprovação no
Senado
Foi o acordo — mais criticado que
compreendido — , construído em torno da proposta de emenda constitucional
das decisões monocráticas do Supremo Tribunal Federal, que propiciou
as condições para a indicação do ministro da Justiça para a Corte. O principal
óbice à escolha de
Flávio Dino pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva era a
ameaça de que seu nome viesse a ser rejeitado pelo Senado.
O voto do líder do governo, Jaques
Wagner (PT-BA), que arrastou toda a bancada da Bahia no Senado, acabou sendo
decisivo à aprovação da PEC. Foi um jogo duplo que teve, do outro lado, uma
bancada do PT contra a proposta e a liberação do ministro da Agricultura, Carlos
Fávaro, para reassumir o mandato e aderir ao bloco de rechaço.
A equação comprometeu os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (União-AP), com o êxito da indicação de Dino no Senado, ainda que esta aprovação ainda não esteja garantida.
A negociação para a aprovação de Dino no
Senado é subproduto de um pacote de acordos em torno dos quais Lula vem
trabalhando com a cúpula do Senado para equacionar a questão fiscal. É
Pacheco quem pauta os vetos presidenciais – e Lula acabou de fazer um cuja
manutenção é considerada crucial para o Ministério da Fazenda, o das
desonerações.
É Pacheco ainda que, na condição de
presidente do Congresso, vai conduzir a votação da Lei de Diretrizes
Orçamentárias e do Orçamento, cruciais para a divisão do bolo de 2024, ano em
que o governo Lula será desafiado a entregar resultados na economia e o fôlego
da oposição para 2026 será testado nas eleições municipais. É disso que trata a
inclusão, de última hora, de Pacheco na comitiva de Lula à COP 28, em Dubai.
O pacote de acordos inclui ainda a
federalização de estatais mineiras, a construção do palanque lulista em Minas
em torno de Pacheco e o licenciamento da pesquisa para a exploração do pré-sal
na Foz do Amazonas.
Se o acordo em torno das decisões
monocráticas selou o destino de Dino, também pode ter facilitado a indicação do
subprocurador-geral Paulo Gonet. Não que Gonet tenha dificuldades de
ser aceito. Pelo contrário. Passa bem tanto no Centrão, que aprecia sua
retranca, quanto na bancada bolsonarista, pelas posições conservadoras em
costumes.
Além de ser um nome da “garantismo”, Gonet
franqueia a Lula a possibilidade de “compensar” o Supremo face ao avanço da
pauta de limitação de suas prerrogativas no Congresso. O subprocurador-geral é
nome da predileção dos dois ministros que competem na liderança do
colegiado, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Foi a dupla que
mais vocalizou insatisfações com a PEC das decisões monocráticas.
Gonet é a garantia de que, se os ministros
terão que conter a exuberância monocrática, não haverá, por outro lado, uma PGR
tão proativa assim que escancare esta perda (mitigada) de prerrogativa.
A rapidez com a qual Lula se agarrou à
oportunidade oferecida pela PEC das monocráticas para emplacar Dino fala por si
sobre o “principal eleitor” do ministro da Justiça. Não são os ministros Gilmar
Mendes nem Alexandre de Moraes, mas o próprio presidente. Único ministro
anunciado em praça pública, ainda na campanha, tornou-se o único ombro, na
Esplanada, sobre o qual Lula se permite se emocionar.
Não se trata tampouco de uma volta de Dino à
magistratura. O STF é uma Corte política, com ou sem decisão monocrática. Saúde
e carreira agradecem. Por mais tensões que acumule, a Corte não se compara ao
Ministério da Justiça, que as Gazas diárias do Brasil transformaram num coveiro
de reputações. E como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é o sucessor da
preferência de Lula, o ministro ganha uma marquise sob a qual se abrigar até
que o pós-lulismo ganhe forma e cor.
Primeiro lugar no concurso para a
magistratura, em 1994, presidente da Associação dos Juízes Federais eleitos por
seus pares, deputado federal na primeira eleição em que disputou, governador
eleito (único na história do PcdoB) contra a dinastia Sarney sem o apoio do PT,
senador eleito com quase o dobro dos votos do segundo colocado, Dino deve parte
das hostilidades que lhe dirigem o Centrão e o PT à percepção de que se trata
de quadro da política nacional que se fez sem amparo de aliados.
Pelo menos até chegar à Justiça e ao STF,
cargos dos quais o presidente é credor. Não se espere dele uma reprise de Dias
Toffoli, que deu as costas a Lula, nem de Cristiano Zanin, que se esgueira
do bate-boca. Dino é da exuberância discursiva, como Gilmar e, em menor grau,
Moraes. Equivoca-se quem aposta em triunvirato. Dino é Lula e, por isso, foi
escolhido. Ciente de que tomou o lugar de uma mulher negra, vai disputar os
holofotes com os homens brancos. Os demais vão disputar com ele a interlocução
com o presidente.
A ''mulher negra'' fica pra depois.
ResponderExcluirMagnífico!
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