O Estado de S. Paulo
A pressão da opinião pública, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta vez decisivo, para a criação do Estado Palestino
Desde a decisão da ONU, em 1947, pela criação
dos Estados de Israel e da Palestina até a crise atual, uma retrospectiva
objetiva da política externa americana em relação às crises no Oriente Médio
mostra que, ao ignorar as violações do Direito Internacional – ocupação do
território palestino, assentamentos ilegais na Cisjordânia, isolamento da Faixa
de Gaza, tentativa de anexar o que resta da Palestina e outras considerações
geopolíticas –, Washington não contribuiu nem para o encaminhamento de decisões
para garantir a segurança de Israel nem para a busca da paz pela desocupação do
território palestino e a criação do segundo Estado definido na partilha.
Agora, pela primeira vez, de forma pública e privada, os EUA estão insistindo fortemente numa solução política. Os entendimentos em 1978 (Camp David) e em 1983 (Oslo) estavam na direção correta, mas a política dos dois Estados não contou com o apoio decisivo de Washington.
Embora isolado no “inabalável” apoio
político, econômico e militar a Israel, os EUA aparentemente estão chegando ao
limite de tolerância em relação à ação militar contra o Hamas, em razão do dano
colateral contra a população civil. Na linha enunciada pelo presidente Joe
Biden, o assessor de Segurança Nacional do EUA, Jake Sullivan, admitiu
candidamente gestões privadas de Washington junto do primeiro-ministro
Netanyahu em cinco questões cruciais: cautela na invasão terrestre; proteção da
população civil; negociação, via Catar, para liberação dos reféns em mãos do
Hamas; assentamentos ilegais de colonos israelitas na Cisjordânia; e a criação
do Estado Palestino. Sullivan deixou implícito, na entrevista, que o
primeiro-ministro israelense não estava dando atenção às gestões dos EUA.
Confirmando isso, Netanyahu, em entrevista pública, disse que não iria
autorizar o cessar-fogo, apesar de toda a pressão humanitária.
No final da semana passada, o secretário de
Estado Antony Blinken voltou pela terceira vez a Israel para convencer o
governo de Netanyahu a minimizar o risco da população civil e a concordar com
uma pausa humanitária para aliviar a pressão da opinião pública contra a
escalada militar de Israel. Visivelmente constrangido, nada pôde anunciar e
teve de ouvir das autoridades israelenses que só haveria uma pausa humanitária
se o Hamas liberasse previamente todos os reféns. Israel anunciou que terá
responsabilidade sobre a segurança em Gaza no pós-guerra, enquanto os EUA dizem
que os palestinos deverão retomar o controle sobre a região.
A evolução da crise em Gaza, com a possível
escalda das operações militares ampliando o conflito para toda a região, não
pode ser descartada. As manifestações de força dos EUA, de caráter dissuasório,
para impedir ataque a Israel por outros grupos radicais de influência do Irã e
de outros países, funcionaram. Os pronunciamentos do líder do Hezbollah e dos
presidentes dos países do Oriente Médio, reunidos na Arábia Saudita, foram o
reconhecimento explícito disso, ao evitar subir o tom das ameaças contra Israel.
A ninguém (EUA, Irã, China, Rússia), neste momento, interessa que o conflito
saia de controle.
O fator que hoje está mais presente nas
considerações de todos os países – e até certo ponto mesmo em Israel – é a
crescente reação da opinião pública em todos os países árabes e em alguns
países ocidentais, em razão da importância da participação de imigrantes de
origem muçulmana nas populações locais (Inglaterra e França). O antissemitismo
e a islamofobia estão aumentando. Nos EUA, as demonstrações de apoio à questão
palestina se sucedem em universidades e lugares públicos e os jovens filiados
ao Partido Democrata se afastam de Biden e protestam contra a política dos EUA
para a região, exigindo a criação do Estado Palestino. A questão do Oriente
Médio será um elemento com força na campanha eleitoral de 2024 e a
administração Biden começa a dar sinais de que terá de mudar de política, se
quiser contar com os votos dos jovens e da crescente comunidade muçulmana nos
EUA.
Em termos regionais, a situação dos EUA
evoluiu da gradual perda de importância política no Oriente Médio, ocorrida nos
últimos anos, para o total envolvimento político e militar na região. Isolados
no apoio a Israel e desenvolvendo uma política para evitar novos ataques ao
país, no fim da operação militar os EUA estarão em posição de força para
liderar uma fórmula política que encontre uma solução para a desocupação da
Faixa de Gaza e o recuo dos assentamentos ilegais na Cisjordânia, fortalecendo,
ainda, a Autoridade Palestina, parte legítima para participar dessa negociação.
O processo negociador não será breve, mas
poderá ser facilitado pela mudança do governo em Tel Aviv, com a substituição
do primeiro-ministro Netanyahu por uma coligação de centro-direita, e não de
extrema direita, como é hoje. A pressão da opinião pública global e interna nos
EUA, no contexto eleitoral que se aproxima, deverá fortalecer o apoio, desta
vez decisivo, para a criação do Estado Palestino, mesmo com a oposição de
grupos radicais em Israel. Não haverá alternativa política para Washington.
Essa é a única forma de garantir a segurança de Israel e a paz na região. Além
da força eleitoral de Biden em 2024.
*Presidente do Instituto de Relações Internacionais
e Comércio Exterior (IRICE), é membro da Academia Paulista de Letras
Biden e Blinken têm nas mãos o mesmo sangue dos civis palestinos que o Carniceiro de Tel Aviv está todo lambuzado. São cúmplices de Netanyahu desde o primeiro ataque do governo TERRORISTA de Israel. Assim age a "democracia" dos EUA e SUA POLÍTICA DE DIREITOS HUMANOS. Mentiras e crimes internacionais que são ignorados pela maioria dos demais países.
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