Folha de S. Paulo
Plano de impostos de Haddad avança, condições
financeiras melhoram um pouquinho
Com a língua de fora, olho roxo, depois de
rasteiras, amputações e sob risco de novos golpes baixos, o plano de Fernando
Haddad de arrumar novas receitas de impostos teve vitórias nesta
semana. Além do mais, tem havido algum alívio nas condições financeiras —grosso
modo, a maneira pela qual as finanças afetam o desempenho econômico.
Dadas as expectativas reduzidas a respeito do
futuro do país, comemorem-se esses golzinhos que nos afastam um tanto mais da
zona do rebaixamento (como no Brasileirão de futebol).
Foi aprovada no Congresso a tributação sobre fundos de um rico só, ou quase isso, e sobre ativos estacionados no exterior ("offshore"). O Congresso também instalou a comissão que vai analisar a MP da tributação federal sobre recursos de isenção de ICMS (os estados fazem o favor de reduzir impostos, a lei malandra permite que se paguem menos impostos federais).
A aprovação da coisa toda, como o governo
quer, é incerta, pois há lobby pesado de empresas e de estados que gostam de
farra fiscal. Pelas contas do governo, renderia uns 0,3% do PIB, dinheiro
essencial para evitar estouro exorbitante da meta fiscal em 2024.
A Fazenda conseguiu até tirar favores fiscais
excessivos do projeto
que regulamenta benefícios para o setor de hidrogênio verde. Como mostraram
reportagens desta Folha,
o lobby de certos malandros da produção de energia está animado para cavar mais
favores do Tesouro, uma lambança e um saque.
O problema de base permanece: uma crise
fiscal ronda o país; talvez se empurre o problema com a barriga até 2027. Houve
aumento exagerado de gastos em 2023 (por ora 5% em termos reais), não há
revisão de despesas (afora de favores tributários), há um forte aumento
programado de despesas da Previdência (por causa do aumento do salário mínimo,
ao qual o piso de benefícios é vinculado), ficou para o ano que vem a solução
para a vinculação da despesa de saúde e educação ao aumento da Receita Federal
etc. Governo ("ala política", quase todo mundo) e Congresso ainda têm
balas de gastos na agulha. A meta fiscal pode ser revista em 2024.
No curto prazo, há um ligeiro alívio nas
condições financeiras. As taxas de juros de
prazo mais longo enfim chegam ao nível em que estavam no início de agosto,
quando a Selic começou
a cair (haviam subido por causa de juros americanos e, em parte menor, por
causa de falações do presidente e da frustração de metas fiscais).
É possível que a taxa real de juros de um ano
caia em breve abaixo de ainda horríveis 6% ao ano —estão acima deste nível
desde dezembro de 2021. As taxas de juros americanas deram uma refrescada e não
devem subir mais, afora desastres.
O real se valorizou, embora não tanto quanto
necessário. O petróleo está em nível "comportado" (para nós, não pode
nem subir nem cair demasiadamente). A Bolsa brasileira se recupera um pouco e
tenta sair do túmulo.
A perspectiva de queda de juros americanos e
a persistência da animadinha na Bolsa podem ressuscitar o mercado de venda de
novas ações (IPOs) e, pois, de captação de dinheiros para possíveis expansões
de negócios. Ainda é uma possibilidade para fins de 2024, apesar da propaganda
que fazem bancos de investimento (que ganham com essas transações).
A economia perde ritmo, por ora. Deve crescer
nada ou pouco menos do que isso no terceiro trimestre —saberemos dia 5 de
dezembro. O mercado
de trabalho ainda ajuda, uma surpresa boa.
Se as condições financeiras continuarem
melhorzinhas e não houver pioras fiscais, deve haver uma recuperação do PIB
mais relevante a partir de meados do ano que vem. É o otimismo possível às
vésperas do recesso de festas da elite política e econômica —o povo continua
ralando e ralado.
Pois é.
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