Folha de S. Paulo
O presidente ainda procura uma mensagem para
'quem não votou no Lula'
O governo lançou uma
campanha com o slogan "O Brasil é um só povo". Um dos
vídeos fala em "paz e reconstrução de laços". O ministro Paulo Pimenta apontou
que o país continua marcado pela polarização e disse que é preciso dialogar com
"quem não votou no Lula".
O presidente já declarou que alguma
polarização pode ser saudável. Ela ajuda a diferenciar projetos,
energizar militantes e nutrir a rejeição a opositores. Quem está no poder,
porém, prefere reduzir essa tensão para ampliar o alcance de suas ações.
Dias depois da estreia da campanha, o presidente tirou as medidas desse abismo. Lula reclamou de uma mulher que interpelou Dilma Rousseff num avião para ironizar o fato de a ex-presidente viajar na primeira classe. O petista se referiu à passageira como "uma fascista" e acrescentou que eles "estão em todo lugar".
Não se conhece a biografia daquela mulher.
Suas escolhas revelam alguma coisa. A cobrança moralista se destaca pela baixa
qualidade argumentativa, mas faz parte do jogo. Já o constrangimento
público de autoridades ganhou contornos destrutivos com o caos
das redes sociais.
Lula provavelmente enxerga esse tipo de
"fascista" como espécime particular da categoria "quem não votou
no Lula": um antipetista incapaz de conversão. O rótulo, nesse caso,
insinua pouco sobre suas convicções e muito sobre a tentativa de desqualificar
suas atitudes como opositor.
Eleitores de Bolsonaro apoiaram um projeto
notadamente radical. Se Lula acreditasse que todos são iguais, o governo não
estaria atrás da simpatia de alguns. O uso
indiscriminado de certos adjetivos vai acertar muitos
fascistas, mas também reforça o vínculo de outros com o líder que de fato
merece esse título.
Na última campanha, alguns petistas
classificavam Tarcísio de Freitas como um fascista por adesão. Pode ser que
Lula pense assim, mas o presidente recebeu o governador para entregar-lhe um
cheque. Na cerimônia, o petista enalteceu a
própria inclinação republicana. A fotografia valeu mais que qualquer
propaganda.
Verdade.
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