Folha de S. Paulo
Partidos com cargos no governo deram 150
votos a favor de urgência articulada por bolsonaristas
Poucos assuntos foram tão explorados
por Lula para
se contrapor ao bolsonarismo como as armas de fogo. No primeiro dia de governo,
o presidente assinou um decreto
que apertou a fiscalização. Meses depois, editou
outra norma e disse que as regras do antecessor ajudavam o
narcotráfico. Flávio Dino vinculou o tema ao "extremismo político".
Nesta semana, a oposição ameaçou derrubar uma das medidas assinadas por Lula para limitar a compra de armas. A notícia boa para o governo é que faltaram aos bolsonaristas três votos para dar urgência à proposta. A notícia ruim é que só faltaram aos bolsonaristas três votos para dar urgência à proposta.
Sozinha, a oposição está longe de ter uma
maioria capaz de causar dores de cabeça para Lula no Congresso. Na
quarta-feira (6), porém, cerca de 150 deputados de partidos que ocupam
cargos no governo apoiaram a tentativa frustrada de reverter a política de
armas do petista. Esses votos representam quase 40% da base aliada do
presidente na Câmara.
Recém-presenteados com ministérios e acesso
privilegiado aos cofres do governo, PP e Republicanos deram
mais de 70% de seus votos a favor do pedido de urgência proposto pelos
bolsonaristas. No PSD, que integra a
base de Lula desde a posse, 65% dos deputados votaram com a oposição. União
Brasil (56%) e MDB (37%) também entraram no jogo.
A adesão parcial dessas legendas à investida
da oposição é um sintoma definitivo do descontrole na base aliada com que Lula
encerra o primeiro ano deste governo. O petista conseguiu alugar uma coalizão,
mas paga o custo adicional do escape ideológico e de alguma chantagem exercida
por congressistas na votação de temas sensíveis.
O caso das armas seria uma pancada
especialmente dolorosa por se tratar de um dos assuntos que mais unem o eleitor
bolsonarista e que Lula buscou neutralizar já na largada do mandato. Além
disso, mais do que um espantalho ultraconservador, esta seria uma votação com
impacto imediato sobre a vida no país.
Uma das pautas mais pavorosas da extrema direita.
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