O Estado de S. Paulo
O horizonte do PT é 2024, mas o de Lula é 2026. Sem economia forte, não tem reeleição
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está
entre dois fogos cruzados: de um lado, o Centrão faz jogo duro com a pauta
econômica e, de outro, o PT e seus pontas de lança no governo não param de
criar caso. Durma-se com um barulho desses! Mas o problema não é só de Haddad,
mas do próprio governo, do presidente Lula e do Brasil. Se a economia afundar,
vão todos afundar juntos. E não tem reeleição.
O início do recesso de Câmara e Senado é no dia 23/12, mas, até agora, nada de reforma tributária, taxação de offshore e de fundos especiais e apostas esportivas, nem da MP para retomar a tributação de benefícios com ICMS. Sem definir as receitas, como fechar o Orçamento de 2024? A previsão da Fazenda é de um reforço de arrecadação de R$ 47 bilhões, mas...
Presidente da Câmara, Arthur Lira decide a
pauta e anda de mau humor, depois de Lula dizer que não entregar a pauta verde
para o Congresso seria a raposa cuidando do galinheiro. E mais: Lira já ganhou
a presidência da CEF, mas quer diretorias e secretarias. E mais ainda: vem aí a
CPI sobre o desastre ambiental de Maceió, palco para seu inimigo alagoano Renan
Calheiros.
Já Davi Alcolumbre, ex e futuro presidente do
Senado, cobra a sua parte em emendas na veia, ou melhor, no seu Estado. E o
governo paga. Segundo o Estadão, nos três dias seguintes à definição da data
das sabatinas de Flávio Dino para o STF e Paulo Gonet para a PGR, R$ 73,9
milhões caíram no Amapá. Quanto custa a pauta econômica?
A pressão do PT não é muito diferente. Haddad
insiste no déficit zero, mas, para Gleisi Hoffmann, presidente do partido, o
Brasil precisa de “um estado que gasta” e o controle do déficit impede o
crescimento. Para o deputado Lindberg Faria, no X, “Qual o problema de um
déficit em 2024 para (...) impulsionar o CRESCIMENTO, SIM?”.
Quem abriu o jogo foi o líder do governo na
Câmara, José Guimarães: “Se tiver que fazer déficit, nós vamos ter que fazer.
Porque, senão, a gente não ganha a eleição em 2024”. Leia-se: a tese de que “um
pouco de déficit não faz mal” é puramente eleitoral. O PT só tem 227
prefeituras, no 10º lugar do ranking nacional, e quer usar o governo e os
gastos para melhorar a posição.
E de que lado está Lula, a quem cabe arbitrar
essa guerra? Apesar da dubiedade, tem apoiado Haddad e é melhor que continue
assim. Se o PT só pensa na eleição municipal de 2024, o horizonte de Lula é a
presidencial de 2026. O professor Haddad ensina: “Não é verdade que déficit faz
crescer. De dez anos para cá, a gente fez R$ 1,7 trilhão de déficit e a
economia não cresceu.” E, sem a economia crescer, não tem reeleição.
Exatamente.
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