terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Eliane Cantanhêde – Durma-se com um barulho desses!

O Estado de S. Paulo

O horizonte do PT é 2024, mas o de Lula é 2026. Sem economia forte, não tem reeleição

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, está entre dois fogos cruzados: de um lado, o Centrão faz jogo duro com a pauta econômica e, de outro, o PT e seus pontas de lança no governo não param de criar caso. Durma-se com um barulho desses! Mas o problema não é só de Haddad, mas do próprio governo, do presidente Lula e do Brasil. Se a economia afundar, vão todos afundar juntos. E não tem reeleição.

O início do recesso de Câmara e Senado é no dia 23/12, mas, até agora, nada de reforma tributária, taxação de offshore e de fundos especiais e apostas esportivas, nem da MP para retomar a tributação de benefícios com ICMS. Sem definir as receitas, como fechar o Orçamento de 2024? A previsão da Fazenda é de um reforço de arrecadação de R$ 47 bilhões, mas...

Presidente da Câmara, Arthur Lira decide a pauta e anda de mau humor, depois de Lula dizer que não entregar a pauta verde para o Congresso seria a raposa cuidando do galinheiro. E mais: Lira já ganhou a presidência da CEF, mas quer diretorias e secretarias. E mais ainda: vem aí a CPI sobre o desastre ambiental de Maceió, palco para seu inimigo alagoano Renan Calheiros.

Já Davi Alcolumbre, ex e futuro presidente do Senado, cobra a sua parte em emendas na veia, ou melhor, no seu Estado. E o governo paga. Segundo o Estadão, nos três dias seguintes à definição da data das sabatinas de Flávio Dino para o STF e Paulo Gonet para a PGR, R$ 73,9 milhões caíram no Amapá. Quanto custa a pauta econômica?

A pressão do PT não é muito diferente. Haddad insiste no déficit zero, mas, para Gleisi Hoffmann, presidente do partido, o Brasil precisa de “um estado que gasta” e o controle do déficit impede o crescimento. Para o deputado Lindberg Faria, no X, “Qual o problema de um déficit em 2024 para (...) impulsionar o CRESCIMENTO, SIM?”.

Quem abriu o jogo foi o líder do governo na Câmara, José Guimarães: “Se tiver que fazer déficit, nós vamos ter que fazer. Porque, senão, a gente não ganha a eleição em 2024”. Leia-se: a tese de que “um pouco de déficit não faz mal” é puramente eleitoral. O PT só tem 227 prefeituras, no 10º lugar do ranking nacional, e quer usar o governo e os gastos para melhorar a posição.

E de que lado está Lula, a quem cabe arbitrar essa guerra? Apesar da dubiedade, tem apoiado Haddad e é melhor que continue assim. Se o PT só pensa na eleição municipal de 2024, o horizonte de Lula é a presidencial de 2026. O professor Haddad ensina: “Não é verdade que déficit faz crescer. De dez anos para cá, a gente fez R$ 1,7 trilhão de déficit e a economia não cresceu.” E, sem a economia crescer, não tem reeleição.

 

Um comentário: