sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Eliane Cantanhêde - Por eliminação

O Estado de S. Paulo

Vem aí um Milei x Massa nas eleições de SP em 2024: uma disputa de rejeições

A quem as greves de São Paulo ajudam? Olhando de fora, ao longe, parecem dar palanque ao governador Tarcísio de Freitas e a seu candidato à Prefeitura no ano que vem, o atual prefeito Ricardo Nunes, contra o favorito na eleição, deputado Guilherme Boulos, que tem apoio da esquerda e do presidente Lula. A deputada Tabata Amaral vai treinando a voz para entrar na campanha e ex-ministro Ricardo Salles parece usar o momento só para badalar seu nome.

O temor de que São Paulo parasse com a greve não se confirmou. O trânsito fluiu, as pessoas iam e vinham, os tumultos foram pontuais e Tarcísio, tomando a dianteira de Nunes, passou toda a terça-feira em entrevistas a TVs, rádios, jornais, divulgando seu plano de privatização e deixando enraizar a percepção – não interessa de verdadeira ou não – de que, com a turma de Boulos na prefeitura, vai ser uma greve atrás da outra, atazanando a vida das pessoas. Fez do limão uma limonada.

E Boulos? Nem capitalizou, nem condenou, nem ganhou palanque, discurso e visibilidade. As pesquisas de seu grupo de apoio devem mostrar que seria um jogo de perde-perde. Ou contrariar a própria base ou amplificar o temor da maioria: de que São Paulo vire um caos. Greve a esta altura é tiro no pé, porque o cidadão comum o de centro quer ordem, as coisas funcionando e chegar rápido em casa, no trabalho e nas lojas, com dezembro começando e o Natal logo ali.

Com todo respeito e as óbvias diferenças, a principal cidade do País pode repetir o festival de rejeição da Argentina, com o ministro justamente da Economia, Sérgio Massa, em meio ao caos, contra o neófito Javier Milei pintando e bordando a realidade ao gosto do marketing. Em São Paulo, é quase um Massa x Milei, com um fator extra: a busca dos órfãos do PSDB, que Tabata quer transformar em sua base.

Esse Milei X Massa replica o estrangulamento do centro no mundo, o cansaço com os políticos tradicionais e um colapso de lideranças. Quem Tarcísio e a direita têm além de Nunes? E Lula, o PT e as esquerdas, além de Boulos? Nunes desabou na chapa de Bruno Covas, assumiu com a morte dele e criou um “anti-slogan”: um prefeito com um caminhão de dinheiro em caixa e sem planos para gastar. Já Boulos tem uma bonita história de vida, já foi testado em eleições e tem mandato em Brasília, mas é visto, inclusive por quem critica Nunes, como um “esquerdista” imaturo, cheio de compromissos com sua turma.

Em campanhas, o que vale são percepções, impressões e temores. A eleição da “joia da coroa”, portanto, deve ser um sinal dos tempos: cheia de ataques e incertezas, uma guerra de rejeições.

 

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