O Globo
Mandar Amorim para a reunião no Caribe foi
ótima ideia
Se Lula fosse para a reunião dos presidentes
da Venezuela e
da Guiana que
começa amanhã numa ilha do Caribe, correria o risco de cair numa frigideira de
expectativas. Apesar do palavrório de Nicolás
Maduro, não se sabe exatamente o que ele quer, muito menos até onde é capaz
de ir. Na outra ponta do problema, não se sabe o que o presidente da Guiana
quer negociar, muito menos se a ExxonMobil aceita discutir seus contratos de
exploração de petróleo na plataforma continental da Guiana. Em qualquer dos
casos, pesará uma decisão da Corte Internacional de Haia.
Essa circunstância dá à encrenca de Essequibo uma diferença em relação a duas grandes, e fracassadas, aventuras militares: a da Argentina nas Ilhas Malvinas, em 1982, e a do Iraque no Kuwait, em 1990. Naqueles casos, dois ditadores invadiram terras alheias pensando em conversar depois. Deu no que deu. Maduro não moveu um só soldado. Anexou o Essequibo nas tipografias de Caracas que imprimem mapas e avisou que quer conversar.
Maduro não quer terras, quer royalties. Logo,
esse é um litígio para diplomatas e advogados, não para soldados. Como ensinava
o embaixador Ítalo Zappa, ao contrário dos enfrentamentos militares, as
negociações diplomáticas não pressupõem claros e imediatos vencedores e
derrotados. Às vezes, quem perde diz que ganhou e quem ganhou diz que perdeu.
Se Lula fosse à reunião caribenha, o Brasil
carregaria a bola de ferro de sua simpatia pelo governo venezuelano. A ida de
Amorim permite colocar o Itamaraty na condição de facilitador na criação de
prazos e foros para que a Guiana e a Venezuela conversem.
Pouco a ver com mediação, pois, com seu
plebiscito de fancaria, Maduro envenenou a questão. Como a disputa por
Essequibo tem quase dois séculos, um ano para cá, dois para lá fariam pouca
diferença.
Caso Lula aparecesse na foto, uma reunião ao
fim da qual se decide apenas continuar conversando poderia ser considerada um
fiasco, por alimentar expectativas. Com a ida de Amorim, ela pode ser vista
como um primeiro passo, mesmo que não se saiba para onde.
Toda a retórica venezuelana pode ser contida
se, enquanto o litígio estiver sendo negociado, Maduro aceitar uma situação em
que sua estatal petrolífera concederá licenças de exploração de petróleo na
plataforma da Guiana, sem mover equipamentos. Esses contratos, como o mapa que
exibiu, seriam apenas conquistas tipográficas, valendo as folhas de papel em
que foram impressas.
Entre o plebiscito e a declaração de Maduro
de que está aberto para conversas, passou-se menos de uma semana. (No meio,
houve um exercício militar “de rotina” de tropas americanas.)
Tudo indica que a teatralidade venezuelana
tem um pé na política interna, e nada impede que Maduro continue brandindo seu
mapa. Afinal, os argentinos continuam dizendo que as Ilhas Falkland são suas e
chamam-se Malvinas.
Maduro trata os Estados Unidos como “o
Império”, e o governo americano excita a oposição venezuelana, mas, quando a
questão girou em torno do petróleo, as cabeças esfriaram. Em outubro passado,
Maduro soltou cinco presos políticos, e Washington suspendeu por seis meses as
sanções que bloqueavam a compra de gás e petróleo venezuelano.
Tá todo mundo louco!
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