Folha de S. Paulo
Parlamento reflete as preferências do eleitor
com mais granularidade do que a Presidência
Quem representa melhor o Brasil, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ou o Congresso Nacional, dominado pelo centrão? Ambos
têm a mesma legitimidade, que extraem do fato de terem sido os escolhidos pela
população num processo eleitoral livre e limpo. Lula foi ungido para ocupar a
chefia do Poder Executivo; deputados e senadores, para legislar.
Em regimes presidencialistas, nutrimos um certo fetiche pelo primeiro mandatário, parcialmente justificado pelo grande poder do cargo e por ser essa a disputa eleitoral mais simbólica e, portanto, a que mais mobiliza as atenções. Em termos de representatividade, contudo, não há como negar que o Parlamento traduz de forma muito mais precisa e granular as preferências da população. A principal razão para isso é matemática. O presidente é apenas um, em alguma medida escolhido por voto negativo (rejeição ao adversário em vez de apoio explícito às suas ideias); os parlamentares são 597, eleitos num sistema em que prepondera o voto proporcional que dá voz às mais diferentes tendências. Gostemos ou não, o Congresso é a cara do Brasil.
"Alto lá", dirão progressistas.
Faltam mulheres e negros no Parlamento, que diverge muito da estrutura
demográfica do país. Verdade, mas é importante observar que o eleitor não é
chamado às urnas para gerar clones de si mesmo, mas para escolher alguém que,
no seu entender e utilizando qualquer critério que deseje, o representará bem.
Se ele quiser votar por linhas raciais, de gênero, religiosas ou estéticas,
ótimo. Se não quiser, ótimo também, dado que o voto é livre.
A democracia não funciona porque produz
líderes competentes que tomam decisões sábias, mas porque faz com que a troca
do poder se dê por meios pacíficos e porque vem com um sistema de freios e
contrapesos que não deixa que nenhum ator acumule poderes desproporcionais.
Isso o centrão faz, mesmo que sua ganância seja moralmente incômoda.
Fato.
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