Correio Braziliense
O Brasil precisa se libertar, urgentemente,
da ditadura do BC ‘independente’ e do austericídio fiscal, ou não teremos como
responder às necessidades do país, afirma o PT
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
enfrenta simultaneamente a gula do Centrão e o "fogo amigo" do PT.
Fosse um economista como Pérsio Arida, e não um político petista
"puro-sangue", calejado por administrar o terceiro maior orçamento do
país como prefeito de São Paulo, já teria pegado o boné e ido embora para casa.
É muito mais confortável dar aulas de ciência política ou filosofia na
Universidade de São Paulo do que administrar as pressões que sofre de todos os
lados da Esplanada e da Faria Lima.
A gula do Centrão é retroalimentada pela
narrativa petista de que Haddad advoga um "austericídio fiscal", o
mote sacado por Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, na conferência nacional da
legenda, para atacar a política econômica e responsabilizar Haddad, por
antecipação, pelas dificuldades que o partido enfrentará nas eleições
municipais.
"Não faz nenhum sentido, neste cenário, a pressão por arrocho fiscal exercida pelo comando do BC, rentistas e seus porta-vozes na mídia e no mercado. O Brasil precisa se libertar, urgentemente, da ditadura do BC 'independente' e do austericídio fiscal, ou não teremos como responder às necessidades do país", afirma a resolução aprovada ontem, em votação remota.
A tese não tem nada a ver com a estabilidade
da economia e uma estratégia sustentável de crescimento, mas com os gastos
públicos no ano eleitoral. Ou seja, o PT está contra o deficit zero porque tem
expectativa de turbinar as pastas controladas pela legenda nas suas bases
tradicionais nas eleições municipais.
O grande equívoco dessa estratégia é que a
goela do Centrão é muito maior. É uma ilusão acreditar que a legenda, pelo mau
exemplo, levará vantagem em relação aos políticos do Centrão, sem o qual o
governo não tem a menor chance de aprovar suas propostas econômicas, como a
reforma tributária. Ainda mais depois do ataque à política econômica e às
alianças do Palácio do Planalto na resolução da conferência.
"As forças conservadoras e fisiológicas
do chamado Centrão, fortalecido pela absurda norma do orçamento impositivo num
regime presidencialista, exercem influência desmedida sobre o Legislativo e o
Executivo, atrasando, constrangendo e até tentando deformar a agenda política
vitoriosa na eleição presidencial", afirma o documento. Na votação, Gleisi
e seus aliados massacraram os líderes do governo na Câmara, José Guimarães
(CE), e da bancada, Zeca Dirceu (PR), por 51 votos a quatro.
Orçamento
O outro lado da moeda é o parecer final do
relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024, (PLN 4/23), deputado Danilo
Forte (União-CE), que propõe a obrigatoriedade de empenho das emendas
parlamentares impositivas no primeiro semestre do ano que vem. Hoje, as emendas
individuais e de bancada estadual são de execução obrigatória, mas o governo é
que decide quando isso é feito.
As emendas de comissões permanentes e as de
bancadas estaduais deverão ser empenhadas até abril, caso o Orçamento seja
sancionado no fim do ano. Ou seja, é injeção direta de recursos nas bases
eleitorais. O empenho é a contratação da despesa, que deve ter recursos
reservados, liquidada e paga. Pelo relatório do deputado, as transferências
especiais (recursos repassados diretamente para governos de estados e
municípios) para a área de saúde terão de ser pagas no primeiro semestre.
Forte explicou que a mudança é fundamental
para os gestores, porque garante previsibilidade. "No primeiro semestre, a
gente resolve a parte da saúde, que é a prioridade do Brasil. Com isso, você
melhora a condição financeira dos entes federados. E é bom, por outro lado,
porque acomoda e diminui a pressão política, que muitas vezes é condenada pelo
toma lá,dá cá", disse Forte.
A saúde, como se sabe, é uma área
capilarizada, com muitas instituições privadas que recebem recursos do SUS.
Para distribuir "fraternamente" os eventuais contingenciamentos, um
dispositivo determina que os cortes de recursos necessários à meta fiscal sejam
lineares, ou seja, iguais para emendas parlamentares e demais recursos do
orçamento, independentemente de prioridades.
Dispositivo proposto pelo relator determina
que os cortes de recursos necessários para garantir a meta fiscal do ano sejam
feitos de maneira igualitária entre emendas parlamentares e o restante das
programações. "Nada melhor do que a equidade. Então, o que está colocado é
que vamos ter uma condicionante. Se for fazer o contingenciamento, fazer
uniforme, linear para a área de investimentos", explicou.
A emenda do senador Randolfe Rodrigues (sem
partido-AP) que estabelecia um limite de contingenciamento em torno de R$ 23
bilhões para 2024, a partir de uma interpretação do novo regime fiscal (LC
200/23), foi rejeitada pelo relator. Segundo o senador, o regime assegura um
crescimento mínimo das despesas de 0,6%. Segundo nota técnica da Consultoria de
Orçamento da Câmara, para garantir a meta fiscal, o corte pode chegar a R$ 56
bilhões.
Muito bom.
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