Folha de S. Paulo
Mas pode acontecer. Donde, pela manhã, na
volta dos fogos, é bom ler o Diário Oficial
Já reparou que ninguém faz nada importante na
última noite do ano? Nenhuma guerra jamais começou num dia 31 de dezembro,
nenhum tratado foi assinado, nenhum presidente deposto. Consultei livros,
anuários e almanaques, e me convenci de que estamos num dia morto. Exceto por
alguns casos.
Na Rússia, no dia 31 de dezembro de 1916, Rasputin, o santo, charlatão e devasso que seduziu czares e princesas e quase tomou a corte, foi assassinado por um grupo de nobres e políticos revoltados. Só que a muito custo. Armaram-lhe uma cilada e lhe serviram cianureto, mas ele não acusou o envenenamento. Daí deram-lhe quatro tiros à queima-roupa. Como continuou vivo, tentaram matá-lo a pauladas e, incrível, ele não morreu. Em desespero, afogaram-no sob o gelo do rio Neva, e só assim Rasputin se foi. Nada mais aconteceu naquela noite em Petrogrado.
No Rio, a 31 de dezembro de 1922, tivemos
algo tão terrível quanto. Foi introduzido no Brasil o Imposto
de Renda. O governo escolheu a data de propósito para a lei passar
despercebida, sabendo que, naquela noite, o carioca estaria ocupado.
E estava mesmo. Enquanto o resto do país foi
dormir de touca e camisola, o Rio teve bailes à fantasia em clubes como o
Ginástico Português, o Comercial, o Riachuelo, o Orfeão Português e o Centro
Galego; nas sociedades carnavalescas, como o Fenianos, o Democráticos e o
Tenentes do Diabo; e em ranchos, como o Congresso das Furrecas, o Filhos de
Talma, o Caprichosas da Estopa, o Flor de Abacate, o Mimosas Cravinas e o
Chuveiro de Prata. Quem queria saber de Imposto de
Renda?
O mesmo este ano. O Réveillon do Rio não será só o de Copacabana, já por si o maior do mundo. Haverá grandes shows e fogos também no Parque do Flamengo, Ilha do Governador, Piscinão de Ramos, praça Mauá, Penha, Madureira, Barra, Recreio, Paquetá e Sepetiba. Pelas dúvidas, é bom acordar e ler o Diário Oficial.
Sei.
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