O Estado de S. Paulo
O governo não está enfrentando os problemas
de longo prazo na educação e na economia
Duas adversidades que na verdade são uma só
se escancararam para o governo. É a óbvia ligação entre números ruins de
educação básica e os de uma economia incapaz de dar um salto vigoroso de
crescimento, tais como revelados pelo PISA e pelo IBGE.
Da maneira como o governo entender a raiz
desses problemas depende a sua maior ou menor capacidade de ajudar a resolvê-los,
e do que pode ser feito a curto prazo (entendido como tempo até a próxima
eleição). A profundidade do fenômeno sugere, porém, que não há saída imediata.
Em educação, assinala Claudia Costin, há avanços (ensino integral, por exemplo), mas o governo não está comprando as brigas que deveria com o corporativismo e não consegue alterar o fato de que o Brasil gasta proporcionalmente muito mais com o ensino superior do que com o básico, que foi a chave do sucesso de várias economias, emergentes e do mundo rico. E não está enfrentando o formidável obstáculo imediato da formação de professores.
A economia brasileira, embora com inflação
mais baixa e desemprego também, na definição do economista Otaviano Canuto,
padece há décadas de produtividade anêmica e sob um Estado balofo. E com taxas
baixas e decrescentes de investimento, sugerindo um encurtamento ainda maior do
PIB potencial.
No passado recente, governos petistas lidaram
com esse quadro geral e as adversidades de percurso (como a crise financeira de
2008) com expansão de crédito, gastos públicos, subsídios, protecionismo e a fé
em que consumo das famílias faria rodar a economia. Uma parte relevante do
pensamento acadêmico considera que essa visão é a responsável pelo desastre sob
Dilma.
Mas uma parte relevante do atual governo tem
compreensão totalmente oposta: o que faltou foi pisar mais no acelerador do
crédito, gasto e consumo, e dos programas estatais de aceleração do
crescimento. Esse entendimento está explícito na maneira como o presidente Lula
descreve suas principais dificuldades e onde está seu empenho para tocar a
economia.
Ele entende as limitações imediatas trazidas
pela questão fiscal como “sacanagem” dos mercados e de parlamentares empenhados
em conseguir mais emendas. Acaba mergulhado numa situação na qual o curtíssimo
prazo de articulações políticas para assegurar mais arrecadação para sustentar
a expansão de gastos públicos consome as energias e o foco do governo.
No plano geral, o resultado é a falta de
enfrentamento dos desafios de longo prazo – melhorar substancialmente educação
e produtividade. Desafios que não estão lá longe, no horizonte, esperando a
hora de serem resolvidos. Estão condicionando o curto prazo.
Sei.
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