Valor Econômico
Novo plano para indústria se assemelha ao que
tornou o Brasil a grande referência do agronegócio e tem ações direcionadas aos
desafios postos pelo cenário atual
Abastece com etanol? Compra remédio mais
barato? Viaja num dos aviões mais modernos e seguros do mundo? Consome proteína
animal que abastece o mundo ou eletricidade com motores elétricos? Temos
celulose com sustentabilidade e crédito de carbono? Agradeça à política
industrial. O que nos leva ao acalorado debate que temos observado a partir do
lançamento da Nova Indústria Brasil, em 22 de janeiro, sobre se o Estado deve
exercer maior ou menor papel em conduzir os caminhos para o desenvolvimento do
país.
Afinal, do que trata e o que pretende a Nova Indústria Brasil e por que ela deve ser apoiada não só pela indústria? De forma resumida, seu fio condutor é alinhar agentes públicos e privados para posicionar o Brasil frente aos desafios contemporâneos. Isso se dá por meio de quatro temas transversais: inovação, produtividade, descarbonização e exportações, tendo a indústria como elemento central na indução de um novo ciclo de desenvolvimento econômico e social.
A adoção de políticas públicas focadas na
indústria tem uma explicação simples. Seja nas economias mais desenvolvidas ou
no Brasil, é ela que detém capacidade de dinamizar cadeias produtivas e outros
setores da economia. É também na indústria que mais se oferta e consome
inovação, na qual se agrega valor ao produto nacional e se encontram os
melhores empregos.
Este raciocínio moderno mostra uma conexão
oportuna entre o desenho das missões contidas na nova política industrial e os
desafios do Brasil real. Parte da premissa de que existem problemas sistêmicos
que afetam o setor produtivo e que, se solucionados, toda a sociedade colherá
os benefícios desse esforço. Afinal, se um setor econômico cresce, cresce a
reboque a economia e, com isso, há efeitos positivos sobre o mercado de
trabalho, a renda e a qualidade de vida do cidadão.
Tome-se como exemplo o velho desafio da baixa
produtividade enfrentado pela indústria brasileira, mal que acomete de forma
ainda mais intensa as empresas de pequeno e médio portes. Faz sentido,
portanto, que os eixos Mais Produtividade e Mais Inovação e Digitalização, do
Plano Mais Produção, busquem direcionar e coordenar ações e recursos para
solucionar um problema transversal, com R$ 246 bilhões em financiamento.
Já os efeitos das mudanças climáticas nos
afetam como sociedade. É compreensível, portanto, que o poder público busque
coordenar agentes públicos e privados em torno de ações estruturadas para
reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de se promover a transição para
uma matriz energética mais limpa e eficiente e de desenvolver a bioeconomia a
partir da riqueza dos recursos naturais.
Ou, ainda, de fortalecer o complexo produtivo
da saúde para reduzir a vulnerabilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) frente
à alta concentração da produção de insumos médicos e farmacêuticos em países da
Ásia. Não é difícil recordar a escassez de produtos básicos, como álcool em
gel, luvas de látex e princípios ativos de medicamentos, quando a pandemia de
covid-19 provocou um desarranjo das cadeias globais de produção. Estabelecer
uma missão de política industrial com esse foco e objetivo faz todo sentido e a
Nova Indústria Brasil acerta ao definir essa prioridade.
Àqueles que avaliam a Nova Indústria Brasil
olhando pelo retrovisor, cabe recordar bons exemplos de política industrial que
contribuíram para consolidar importantes setores da nossa economia. No campo do
complexo industrial da saúde, um exemplo recente e bem-sucedido de política
industrial pautada pelo conceito de missão é do medicamento genérico, na década
de 1990, que ampliou o acesso da população a remédios mais baratos.
O Pró-Alcool, por sua vez, na década de 1970,
colocou o Brasil na vanguarda da produção de biocombustíveis e pavimentou uma
estrutura produtiva e de pesquisa e inovação sólida e que é referência mundial.
A Embraer,
terceira maior empresa de aviação comercial do mundo, serve de âncora para uma
avançada base industrial, tanto na aviação civil como na militar.
Vale lembrar que o Brasil é uma potência
agroindustrial porque compreendeu, como política de Estado, que investir em
inovação e tecnologia é o caminho para promover o desenvolvimento de um setor
econômico como um todo. Tal como a que tornou o Brasil a grande referência do
agronegócio, a nova política vai no mesmo sentido, mas com o foco na indústria,
de forma transversal e com programas e ações direcionados aos desafios postos
pelo cenário atual econômico, ambiental e geopolítico.
Em reação a esse mesmo cenário, as indústrias
dos Estados Unidos, da União Europeia, do Reino Unido e do Japão estão
recebendo US$ 6,8 trilhões em políticas industriais. Se nesses países os
objetivos não se alcançam sozinhos, nossa situação é ainda mais difícil, pois
partimos de um ambiente de negócios que custa às empresas R$ 1,7 trilhão ao ano
em Custo Brasil e de um spread bancário de 27,4%, diante de uma média mundial
de 7,3%.
Na Nova Indústria Brasil, são R$ 300 bilhões
a serem empregados ao longo de quatro anos, ou R$ 75 bilhões ao ano, com
impacto fiscal adicional zero. São recursos já previstos no orçamento do
governo federal, seja nos fundos que alimentarão o programa, como o FNDCT, o
FUST e o FAT, seja via captação internacional - como a ocorrida em novembro de
2023, cuja demanda pelos títulos excedeu a oferta em três vezes.
Em suma, as linhas de financiamento previstas
na nova política industrial não custarão um centavo a mais para o contribuinte,
não demandarão despesas novas e não será preciso alterar os valores já
previstos para acomodar as medidas anunciadas. Para efeito de comparação, o
Plano Safra promete em apenas um ano R$ 364 bilhões, sem comprometer o
equilíbrio fiscal do país e com resultados positivos para o desenvolvimento do
agronegócio.
Por esses motivos, a indústria está
profundamente engajada com essa agenda. Vamos trabalhar para que os recursos
empregados se convertam em desenvolvimento produtivo, crescimento econômico,
empregos e renda para a população brasileira.
*Antonio Ricardo Alvarez Alban é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
é empresario, presidente e canalha. MAM
ResponderExcluir■■Se nós tivemos 2,1% de déficit (quase $250Bilhões) agora em 2023, como que esse empresário crápula fala que o péssimo arranjo que estão chamando de reindustrialização vai ter " impacto fiscal adicional zero " ?
ResponderExcluirSimplesmente parei de ler, por raiva e por medo de perder tempo.
■Eu adoro ler quem pensa diferente de mim, como o Magnoli, o Lerer Rosenfield..., mas ele tem que pensar, e não fazer gracinha e meter a mão em dinheiro que eu quero ver melhor aplicado.
■■As gestões do PT, de 2007 a 2015, gastaram $1,7Bilhões, via BNDES e outros, dizendo que era para reindustrializar o Brasil e o que ficou foi dívida, corrupção, deficits fiscais gêmeos, uma recessão gigante, faltou dinheiro até para pagar o Bolsa-Escola e o governo Dilma falsificou o orçamento para conseguir pagar (e usaram este fato como motivo para fazer seu imoeachtment) e estamos sendo afundados neste quadro.
■Vai embora para casa e deixem o Brasil em paz, gente do mal!